Duelo entre os líderes do Campeonato Inglês, Liverpool e Manchester City
Entendo o saudosismo. Entendo mesmo. Mas já tive outra opinião. Era incômodo para mim ver alguém mais velho falando sobre como havia mais craques no passado, como o futebol era mais agradável. É um sentimento estranho. Você se sente injustiçado: “Por que o que estou vivendo agora não é tão bom quanto o que ele viveu?”.
Porém, reflitam, mesmo aqueles que começaram a ver futebol nos anos 1990, como eu: vocês não acham que os jogos, principalmente aqueles de alto nível, são completamente diferentes em relação aos do passado (recente e remoto)? Como não entender o torcedor antigo, que vibrou com o nascimento e a expansão do esporte mais popular do mundo, e hoje está insatisfeito com a maneira que se joga?
Dizem que é coisa de signo. Sei não, mas é fato que, igual a muitos velhinhos ranzinzas, eu sou meio resistente a mudanças. E confesso que tenho tido pouco prazer em acompanhar partidas de futebol. Neste domingo, me senti como o vovô rabugento na poltrona, reclamando de tudo.
A sensação veio enquanto eu assistia ao jogo mais esperado deste início de temporada na Europa, entre os líderes do Campeonato Inglês, Liverpool e Manchester City. O duelo foi de baixo nível? De jeito nenhum. Em termos de velocidade, organização, intensidade, movimentação sincronizada, posicionamento estratégico, tudo que se exige do futebol moderno, a partida não deixou nada a dever.
Porém, logo nos primeiros minutos parei para pensar sobre como é estranho para mim, e como deve ser para os ainda mais antigos, constatar a dificuldade que se tem hoje para fazer o jogo fluir, mesmo que equipes extremamente qualificadas estejam em campo.
É desafiador demais. O gramado passou a ser dividido em três, cada um sempre ocupado por todos os jogadores de linha das duas equipes. Os espaços são mínimos, mas times como o Manchester City jamais desistem da tarefa de sair com a bola no pé, mesmo com a pressão absurda que faz o Liverpool.
Destaquei no infográfico um dos vários momentos em que os Reds avançaram até a área do City para não deixar o jogo acontecer. Neste caso, os comandados de Pep Guardiola, com uma arriscada troca de bolas entre defensores e o goleiro Ederson, conseguiram passar a primeira linha de marcação. Entretanto, depois disso, acontecia outro fenômeno: o da cautela disfarçada.
Quando atingia a intermediária, o Manchester City não partia para a transição ao ataque com número suficiente de jogadores para incomodar o adversário. Fazia isso de maneira proposital, para não correr riscos – vinha de três derrotas consecutivas contra o rival, que sabe massacrar com contra-ataques mortais.
O resultado foi um primeiro tempo sem chances de gol, com posse de bola quase total do City, sendo que 75% dos passes foram trocados entre seus atletas da linha defensiva.
Na segunda etapa, já com o desgaste físico agindo para aumentar espaços, oportunidades apareceram, mas apenas em contra-ataques ou bolas roubadas no campo ofensivo. Foi numa resposta rápida a uma tentativa de avançar do Liverpool que o City encontrou o pênalti, já nos minutos finais. Mahrez isolou e manteve o adequado placar de 0 a 0.
Tristeza
A chatice desse jogo foi o de menos num fim de semana trágico, desastroso. Sábado, na Arena do Grêmio, vi um árbitro destruir um jogo com decisões tendenciosas – em lances capitais ou não – sempre para o lado mais forte.
E é também esse ‘lado mais forte’ que transforma o País num remendo, numa aberração. Uma vergonha que o mundo denuncia, mas aqui é vista como solução. Que domingo triste! Ainda há esperança, mas é muito, muito pequena.