Daniel Dórea | danieldorea@grupoatarde.com.br | Foto: Ag. A TARDE
Caras especiais, em geral, podem atuar por qualquer lado do campo, ou pelo centro
Escolher a posição que um jogador vai ocupar no campo é uma das tarefas mais importantes para os especialistas, sejam eles olheiros, dirigentes ou treinadores. Eventualmente, um menino vai querer atuar em determinada função porque está no seu imaginário, ou porque projeta que terá sucesso, mas suas características podem o levar para outro setor, a depender da visão de quem estiver ao seu redor.
No futebol atual, um técnico tem grande chance de tomar uma decisão crucial ao definir qual atleta colocar em cada ponta do ataque. Melhor um canhoto pela direita? Um destro pela esquerda? Ou justamente o contrário? A verdade é que não há uma fórmula exata. As escolhas precisam partir do que o elenco lhe oferece.
E não são apenas as virtudes físicas e técnicas do atleta que vão determinar essa decisão. A personalidade também influencia. Por exemplo, jogadores como Lionel Messi e Arjen Robben têm como característica primordial o individualismo – no bom sentido. Procuram desenvolver lances para eles mesmos finalizarem (no caso de ambos) ou para encontrar um companheiro com um passe elaborado, infiltrante (aí, vale só para Messi). Por isso, faz mais sentido que eles atuem sempre partindo do lado oposto ao do pé preferido. O mesmo serve para caras como Neymar e Hazard.
Caso você perceba que seu jogador tem uma velocidade especial, com a tendência de procurar a linha de fundo para servir colegas, além de uma capacidade menor para executar dribles com mudanças bruscas de direção ou para encontrar passes improváveis, o melhor é que ele jogue do lado correspondente ao do pé preferido. Douglas Costa e Di María são bons exemplos desse tipo de atleta.
É claro que essa não é uma teoria pronta. Caras especiais, em geral, podem atuar por qualquer lado do campo, ou pelo centro. É o que tem feito Dudu, do Palmeiras, o melhor jogador do futebol brasileiro no momento. Outros, mais limitados, dependem dessa escolha para ter um rendimento mais favorável.
Opção determinante
No Vitória, a opção que Paulo Cézar Carpegiani fez ao escalar Lucas Fernandes como titular no jogo de domingo, contra a Chapecoense, foi determinante para o triunfo. Embora não seja dotado de técnica ou habilidade acima do comum, Lucas exibe boa leitura das tramas ofensivas. Como jogador veloz e altruísta, e por preferir arrancadas em linha reta, é um atacante destro que atua pela direita.
Ele foi o atleta rubro-negro que mais esteve próximo do gol durante toda a partida. Disparou cinco finalizações, sendo o jogador que mais arriscou chutes entre as duas equipes. O número é tão significativo que supera com folga a média mais alta entre os maiores finalizadores do Brasileirão: 3,4 por partida, ainda de Róger Guedes, que deixou o Atlético-MG no meio do ano.
Nas cinco jogadas em que concluiu a gol, todas com perigo, Lucas Fernandes mostrou uma variação nas suas movimentações capaz de confundir qualquer marcador. Destaquei quatro delas no infográfico. Na número 1, sua entrada em diagonal foi tão ampla que ele chegou a trocar de lado, indo parar na esquerda. Recebeu de Walter Bou e bateu para fora. Na jogada 4, Lucas também adentrou a área em diagonal, mas para ocupar o lugar do centroavante, Bou, que se deslocou ao canto da área e cruzou para o ponta-direita errar o alvo novamente.
No lance número 2, Lucas percebe que virá cruzamento do lado oposto e se coloca à espera do passe no segundo pau. Neste caso, ele manda uma bomba para a defesa do goleiro Jandrei, mas, em movimento parecido, marcou o gol do triunfo após levantamento de Erick. Para terminar, a jogada 3 mostra um avanço vertical com dribles em velocidade, que poderiam culminar num cruzamento, um passe para trás ou uma outra finalização. Lucas escolheu a última alternativa e mandou ao lado da meta.
Times em situação difícil, como o Vitória, precisam de soluções simples. O jogo objetivo, sem firulas, de Lucas Fernandes casa perfeitamente com essa necessidade. Demorou para Carpé perceber e colocá-lo como titular.