Daniel Dórea | danieldorea@grupoatarde.com.br | Foto: Ag. A TARDE
O número de faltas cometidas também diminuiu. A média era de 4,2 nos 11 jogos iniciais e, nos 17 mais recentes, caiu para 3,5
Nem unhas no pé ele tinha mais. Jogava sempre descalço, fosse o terreno de grama, barro, cimento ou asfalto. Não sabia bem como colocar um efeito na bola, mostrava certa dificuldade para prendê-la aos pés. Mas tinha pulmão. Malhava já na adolescência numa ‘academia’ improvisada na garagem. Levava vantagem no físico, sabia dar alguns dribles pouco ortodoxos, era um ‘jogador de rua’, apesar de morar em condomínio fechado.
Esta é a pequena homenagem que faço a Cebola, amigo de infância, típico ‘carroceiro’ dos babas. Se você é baiano e gosta de jogar bola, deve saber o que é um carroceiro. Caso não saiba, basta ler a descrição no primeiro parágrafo.
Depois de algum tempo jogando em campeonatos semi-amadores, o volante Gregore teve sua primeira grande chance em campeonatos de elite neste ano, com a camisa do Bahia. Parecia óbvio que não se adaptaria logo de cara, mas surpreendeu. Assumiu a posição de titular com rapidez, fazendo o apuro físico pesar mais na balança do que as limitações técnicas e táticas. Sim, Gregore era um carroceiro.
Digo que ‘era’ porque agora, nove meses depois de sua estreia pelo Tricolor, já é possível dizer que nasceu um novo jogador. Mais consciente, menos afobado, mais responsável, menos agressivo, igualmente disposto e aguerrido.
Mesmo com alternativas de atletas mais experientes no setor, como Nilton, Edson e Elton, Gregore se colocou desde o início do ano como o principal volante da equipe. Era nítida sua vantagem física em relação aos demais. Porém, as deficiências não eram pequenas, e prejudicavam o time.
O paulista tinha pressa demais para recuperar a bola, o que resultava muitas vezes em tentativas de antecipações mal-sucedidas, com consequentes espaços oferecidos para os adversários nos contra-ataques ou excesso de faltas cometidas e cartões recebidos.
Isso durou até as rodadas iniciais do Brasileiro, quando o Bahia ainda era comandado por Guto Ferreira. Nos 11 primeiros jogos (os três últimos dessa sequência já com o interino Cláudio Prates), Gregore levou cinco cartões amarelos. Ou seja, tinha média de praticamente uma advertência a cada par de jogos. A partir da chegada de Enderson Moreira, houve mudança brusca. Em 17 partidas, ele levou apenas dois cartões, passando a demorar quase nove duelos para ser advertido uma única vez.
O número de faltas cometidas também diminuiu. A média era de 4,2 nos 11 jogos iniciais e, nos 17 mais recentes, caiu para 3,5. E o melhor de tudo é que, mesmo adotando essa postura um pouco mais conservadora, Gregore se mantém constante na média de desarmes completos: de 3,1 por partida, passou para 3,2 (todos os números são do site Footstats).
Corrida para trás
Uma das principais adaptações que o volante fez em seu jogo foi em relação ao momento escolhido para executar os desarmes ou mesmo cometer faltas nos adversários. Antes, Gregore corria muito para a frente, na ânsia de tomar logo a bola. Atualmente, tem mantido um posicionamento mais fixo, estratégico. Corre quando necessário, geralmente para trás, para fazer coberturas. Assim, além de ser mais útil para o time, ainda se desgasta menos.
Destaco no infográfico quatro lances do triunfo de sábado sobre o Botafogo, por 1 a 0, em que o jogador fez perfeitas coberturas em lances nos quais companheiros deixaram espaços nas costas. Nas jogadas 1 e 3, cobriu avanços do Bota pela direita, em vacilos da dupla de laterais Léo e Paulinho – em um deles teve de apelar para a falta. Na número 2, mostrou-se atento ao drible levado por Ramires, que abriu perigosa brecha pelo meio na intermediária defensiva. No lance 4, esbanjou fôlego já nos minutos finais para recuperar a bola após subida atrapalhada do zagueiro Jackson.
Nos aspectos técnicos, Gregore não exibe igual evolução. Já aos 24 anos, não é de se esperar que ele se transforme num bom passador ou num especialista em chutes de média distância. O ganho na inteligência em campo, no entanto, já é significativo o bastante.