Daniel Dórea | danieldorea@grupoatarde.com.br | Arte: Ag. A TARDE
Destaquei no infográfico todas as participações de Arthur na partida
Dizem que está tudo sob controle. Mas quem deseja ou precisa ser controlado? Parece que alguma coisa está fora da ordem... ordem e progresso?
Aqui, o lema é outro: amor. Então, já que falamos neste espaço sobre futebol, vamos falar de amor no jogo. Vamos falar de Barcelona. Como em todas as outras coisas, é muito difícil também encontrar amor no mundo da bola. Por mais que Guardiola tente transportá-lo a outros times, ele só se encontra mesmo em toda a sua pureza na Catalunha.
A comparação é simples. O Real Madrid quer sempre os melhores jogadores do mundo. O Barcelona quer os que mais se identifiquem com o seu estilo. É questão de empatia. Ao ver o primeiro tempo do superclássico de domingo, percebi um Barça mais próximo daquele que me encantou, o melhor time que já vi jogar, aquele com Xavi, Iniesta e Messi. E olha que Messi estava nas tribunas, cuidando da criançada, e os outros dois não desfilam mais seu talento por lá.
Transcrevo aqui as palavras de Paulo Calçade, da ESPN Brasil, o comentarista que melhor analisa partidas de futebol na televisão brasileira: “Arthur faz o Barcelona ter um reencontro com uma forma de jogar. É como se ele tivesse crescido vendo os pôsteres de Xavi e Iniesta no quarto”.
Vejo no meio-campista que se revelou no Grêmio muito mais de Xavi do que de Iniesta. E isso é ótimo! Embora Iniesta tenha sido mais espetacular, Xavi sempre foi a engrenagem de maior importância no funcionamento daquela equipe. Era quem dava ritmo ao time (daí a classificação de “ritmista” inventada por Tite).
Foi o que Arthur fez nos 45 minutos iniciais do duelo com o Real Madrid. O jogo terminou com o placar de 5 a 1, mas o massacre ocorreu verdadeiramente na primeira etapa, finalizada em 2 a 0. Ao contrário de como respira o amor, no futebol a beleza vem do controle, de controlar o outro. No caso, o adversário. Com Arthur no vértice esquerdo do triângulo do meio-campo, o domínio foi estabelecido por aquele lado, de onde o meia-atacante Philippe Coutinho parte para se infiltrar em diagonal e onde o lateral Alba avança para aproveitar os espaços que se abrem naturalmente.
Arthur foi peça-chave para se chegar à soberania em campo. Alba, para protagonizar as jogadas decisivas. O lateral foi aquele que, disparadamente, mais percorreu distâncias em alta velocidade (superior a 21 km/h) no primeiro tempo, com 342 metros. Foi acionado em posição ameaçadora, perto da linha de fundo, em oito oportunidades. Em uma delas, deu a assistência para o gol de Coutinho. Em outra, o passe para Suárez sofrer o pênalti que originaria o segundo tento.
Desta última jogada Arthur participou, mas não é nos lances pontuais que o ex-gremista se destaca, e sim na regularidade. Por isso, é importante destacar que ele ainda não está 100% pronto. Era difícil ver Xavi perder o controle de um jogo. Mesmo que o Barcelona não estivesse inspirado e acabasse derrotado por não conseguir penetrar em retrancas adversárias, o domínio absoluto estava quase sempre lá, intacto.
Neste domingo, porém, o Barcelona quase viu tudo se perder no segundo tempo. Nos primeiros 15 minutos, o Real Madrid marcou um gol e só não chegou ao empate por mera obra do destino – o azar de Modric num chute na trave foi assombroso.
Participação de Arthur
Destaquei no infográfico todas as participações de Arthur na partida. À esquerda, aquelas na primeira etapa. À direita, no tempo complementar. Ele passou de 36 toques na bola – com 31 passes certos (círculos azuis), quatro jogadas agudas (três lançamentos e um chute defendido pelo goleiro, representados pelos círculos verdes) e apenas um erro (uma bola perdida, círculo vermelho) – para somente 13 no segundo tempo, no qual acabou substituído nos minutos finais.
Não havia mais a situação de controle do jogo. Arthur passou a encostar na bola em momentos esparsos, em situações ocasionais, não previstas. E o Barcelona teve sorte pelo fato de o Real Madrid ter falhado em grande parte das chances que criou. Com o desgaste merengue, o Barça soube se aproveitar mais tarde e mudanças cirúrgicas o fizeram matar a partida.
A queda de Arthur na metade final do embate faz parte do processo de adaptação. O mesmo que Tite precisará aplicar na Seleção caso queira aproveitar com perfeição um jogador que o país não tem há tempos – ou talvez nunca tenha tido. “Que a Seleção Brasileira saiba usá-lo”, lançou o desafio Paulo Calçade.