Amanda Souza | Fotos: Adilton Venegeroles | Ag. A TARDE e Raul Spinassé | Ag. A TARDE
Há quem defenda a continuidade desses campeonatos por uma série de fatores, ainda que os argumentos pelo fim deles me parecem mais convincentes
Esses são os piores meses do futebol. O início da temporada com os Campeonatos Estaduais são de dar dó, principalmente para os torcedores que estão mais interessados no esporte, no desenvolvimento do futebol, na disputa sadia e no espaço que os times de menor expressão ganham. A polêmica que ronda os Estaduais é antiga e levanta uma questão: acabar ou não?
A falta de qualidade desses campeonatos no Brasil é indiscutível e disso ninguém tem dúvidas. Não conheço nenhum torcedor em posse de suas faculdades mentais que discorde disso. Ainda assim, há quem defenda a continuidade desses campeonatos por uma série de fatores, ainda que os argumentos pelo fim deles me parecem mais convincentes.
Dentro daquilo que espero do futebol, não vejo nenhum campeonato estadual no Brasil capaz de atender às minhas expectativas. Usando como exemplo o Campeonato Baiano, me pergunto de que serve o torneio se não para desgaste físico dos atletas e inchaço do calendário. Olhando pela perspectiva dos dois maiores representantes do estado - Vitória e Bahia -, faria alguma diferença para eles a existência ou não da competição?
Para eles, de fato, não. É só mais uma competição dentro de um calendário mal organizado e que, provavelmente, não traga nenhum lucro financeiro. Encurta a pré-temporada, pega o time em montagem, desgasta os atletas e corre até o risco de perdê-los. Enquanto isso, eles se revezam para levantar a taça e vez ou outra um intruso aparece.
Por isso acredito que tenha sido acertada - ainda que precocemente abortada - a iniciativa do Vitória de utilizar o elenco sub-23 para iniciar a temporada. Dessa maneira é possível preservar o elenco principal, dar ritmo e oportunidade aos meninos das divisões de base e até mesmo descobrir grandes promessas.
Essa é a perspectiva de quem torce para um clube de maior expressão, vive na capital e enxerga o futebol de uma maneira muito mais moderna. Ainda no cenário da Bahia, caso o estadual acabasse, como seria a vida do torcedor - e do atleta - dos clubes do interior?
Um ou outro clube consegue se destacar algumas vezes, ensaia uma disputa com Vitória e Bahia e até mesmo tem um espaço nacionalmente, como o Vitória da Conquista, por exemplo. Mas a maioria dos clubes de menor expressão, aqui e no resto do Brasil, espera mesmo é por essa oportunidade.
Os gramados realmente não são dos melhores, as condições de jogo e inclusive de arquibancada muitas vezes também não são, mas é a oportunidade que esses clubes têm. Há uma série de questões envolvidas que vão desde a contribuição para a cultura local, como é com o Jegue da Chapada, o Jacobina, até o sustento dos funcionários do clube.
Fora das quatro linhas, há ainda uma outra questão que nem sempre está inserida nas rodas de debate sobre o assunto. O interior do estado também torce para os times da capital. Essa é a única oportunidade que muitos dos torcedores têm de poder ver em campo, ainda que sem brilho e espetáculo, o time do coração. É a chance de ver os “astros” dos grandes times do estado, de ver um futebol de melhor qualidade. Não seria meio egoísta tirar isso deles?
Por muito tempo as discussões que envolvem os estaduais devem permanecer. Confesso que, num cenário geral, defendo a extinção desses torneios, mas me vejo numa posição muito privilegiada para ter um argumento final. Pondero, penso nas consequências para todo o contexto, inclusive para o esporte: vai mesmo fazer a diferença ou é só mais um capricho do futebol moderno?