Daniel Dórea | danieldorea@grupoatarde.com.br | Foto: Felipe Oliveira | EC Bahia | Divulgação
Mesmo sendo apenas um jogador de ‘aluguel’, considero que ter Artur como o novo Zé Rafael é um passo adiante, futebolisticamente
Antes de começarem os jogos oficiais em 2019, escrevi sobre a curiosidade que tinha em relação a como ficaria o time do Bahia com a saída de Zé Rafael e a entrada de Artur no lugar dele. A maioria lamentava o adeus do meia, que foi para o Palmeiras, mas minha expectativa era otimista.
A ‘troca’, em termos de mercado, não significa grande coisa para o Tricolor, que vende um destaque da equipe (por valor recorde) e fica com um jogador emprestado por um ano. Entretanto, mesmo sendo apenas um jogador de ‘aluguel’, considero que ter Artur como o novo Zé Rafael é um passo adiante, futebolisticamente.
Explico: as principais qualidades de Zé não dizem respeito a técnica ou a uma condição excepcional de decidir jogos. O paranaense praticamente inaugurou no Bahia a era moderna dos jogadores ‘total flex’. O trabalho tático era tão claro e eficiente que ganhou enorme reconhecimento da torcida, mesmo que esta geralmente prefira artilheiros, marqueteiros, capitães, deuses da raça
Artur também é competente na parte tática. Não, não como Zé Rafael. Ele faz o básico. Recompõe pela lateral, rouba umas bolas, faz pressão lá na frente. Mas não tem a leitura de jogo defensiva de Zé, que sabia se posicionar também na faixa central, conseguia um número impressionante de desarmes e era o encaixe do time na transição defesa-ataque.
Só que o baixinho canhoto representa um ganho técnico. Enquanto Zé Rafael passou dois anos no Esquadrão sem resolver os consideráveis problemas nas investidas ofensivas – passa tempo em demasia com a bola no pé, acaba quase sempre desarmado, não finaliza bem e trabalha pouco em profundidade – Artur já mostrou em três jogos ter vocação maior para ser decisivo.
É claro que ele também gosta de correr com a bola, e tem velocidade para isso. Mas, por enquanto, a maior virtude apresentada foi no trabalho de aceleração das jogadas pelos lados. No primeiro tempo do triunfo do último sábado, por 3 a 1, sobre o Santa Cruz, Artur provocou uma superprodução de lances desse tipo.
Localizo as dez vezes em que Artur acelerou a bola para acionar um companheiro em ultrapassagem
No infográfico, localizo as dez vezes em que ele acelerou a bola para acionar um companheiro em ultrapassagem – oito delas na etapa inicial. Os passes corretos, mas sem sequência perigosa, aparecem na cor azul. Os círculos verdes representam jogadas que resultaram em chance de gol – incluindo o tento em que Nino cruzou e Marcos fez contra – e o único vermelho foi uma tentativa de enfiada que por pouco não deu certo. Os passes foram direcionados para o lateral Nino (4 vezes), os volantes Flávio (2) e Gregore, o meia Guilherme, além dos atacantes Rogério e Gilberto.
Apenas com uma marcação muito reforçada pelo lado esquerdo da defesa um time conseguirá neutralizar as ações do Bahia por ali. Artur tem a capacidade de entrar em diagonal para finalizar (fez isso duas vezes na partida, sendo que na sobra de um dos chutes saiu o segundo gol de Gilberto), travar o avanço para cruzar com precisão (como no primeiro tento de Gilberto, após ajeitada de cabeça de Moisés) e, principalmente, fazer o jogo fluir com passes verticais.
No geral, o velocista somou no duelo 27 passes (dois errados e dois que geraram chance de gol), duas viradas de jogo corretas, dois cruzamentos (um certo, para o gol inaugural de Gilberto, e outro errado) duas finalizações (uma bloqueada e outra para fora), três interceptações, dois desarmes, sete bolas perdidas, uma falta cometida e duas sofridas.
A bola chega aos pés dele de variadas formas, mas a mais eficiente para acioná-lo com objetividade é com lançamentos da esquerda para a direita. Contribui para isso o posicionamento de Lucas Fonseca como quarto zagueiro, pois ele é o jogador da equipe mais qualificado para executar passes longos.
Risco de adeus
Como aconteceu com João Pedro em 2018, há a chance de Artur deixar o Bahia antes do previsto. No contrato de empréstimo, o Palmeiras tem a prerrogativa de decidir vendê-lo em caso de proposta do exterior. O Tricolor ficaria com 10% de taxa de vitrine. E seria uma pena...