Não creio que alguém consiga tirar o tricampeonato do Manchester City, um time que dificilmente falha contra pequenos
Os campeonatos europeus voltaram. Foram mais de dois meses de férias, e eles fizeram falta. Nesse meio tempo, acompanhamos de perto a Copa América, que não mostrou quase nada de interessante – teve um cara de 36 anos como melhor jogador e o Peru na decisão – e as competições nacionais, além da Libertadores.
Bem... o nível dos jogos de clubes no Brasil tem melhorado. A evolução é arrastada, mas ela existe, com uma boa diversidade de estilos. Há times que apostam totalmente na posse de bola (Fluminense e Santos), outros que aliam o jogo apoiado a transições rápidas e objetivas (Grêmio, Flamengo, Inter e Athletico-PR), os reis do contra-ataque (Palmeiras e Bahia). E daí saem boas partidas – apesar de as ações do árbitro de vídeo insistirem em atrapalhar.
Mas, não, nada disso substitui o carnaval de possibilidades que se abre num campeonato como o Inglês, que começou na última sexta-feira. Numa única rodada – e a primeira, que geralmente apresenta times ainda em marcha lenta – já vimos atuações soberbas, pistas do que pode acontecer até o fim da temporada, no meio do ano que vem.
Na sexta, o Liverpool, atual campeão europeu, não poupou intensidade só porque as coisas ainda estão se iniciando. Simplesmente fez os quatro gols do 4 a 1 sobre o Norwich já no primeiro tempo. Neles, mostrou uma incrível capacidade de passar do campo de defesa para o ofensivo com poucos toques, mesmo que não sempre em contra-ataques. O uso das laterais do campo é exemplar, e a participação inteligente dos ótimos atacantes quando a bola chega perto do gol adversário faz a diferença. Nenhuma linha de frente funciona tão bem quanto a dos Reds, com a saída de Firmino para ser uma espécie de armador e a entrada na área dos pontas, em diagonal.
Sábado, o bicampeão da liga também exibiu sua melhor versão. O cardápio de maneiras de furar uma retaguarda completamente focada em não sofrer gols é gigante. No primeiro tento, foi com ultrapassagem de lateral, velocíssima. O segundo saiu de contra-ataque, mas o terceiro simboliza o talento do Manchester City para trabalhar com tabelas pelo meio da defesa adversária. Sterling e Mahrez superam um bolo de sete rivais num lance que vai mais de apuro técnico que de ensaio. Da mesma dupla saiu a jogada com passe infiltrante no quinto gol. No quarto, Mahrez cavou pênalti na individualidade.
No domingo, já houve o clássico inaugural, entre equipes que dominaram o futebol inglês na primeira década deste século, mas perderam status nos últimos anos. O Chelsea segue na transição entre o futebol duro que trouxe resultados, principalmente sob o comando de José Mourinho, para uma tentativa ainda irregular de imitar a leveza de times como o Manchester City, por exemplo. Na etapa inicial do duelo com o Manchester United, os Blues dominaram a posse de bola e chegaram muito perto de marcar. Não aproveitaram, e aí o jogo virou.
Em baixa desde a aposentadoria do técnico Alex Ferguson, os Diabos Vermelhos tentam manter a estratégia clássica de se impor contra pequenos e adotar postura reativa diante de rivais mais perigosos. A segunda etapa, com a vantagem no placar após tento originado de contra-ataque ainda no primeiro tempo, foi perfeita. O gol de manual é o terceiro, no qual a bola é roubada na intermediária e conectada quase que imediatamente para a área adversária com um lançamento magistral de Pogba. Ele encontra a ensaiada entrada em diagonal do veloz e técnico Marcus Rashford.
A boa atuação do United pode trazer novidade na briga pelo título? Improvável. A regularidade de times como City, Liverpool e Tottenham (seguro também em sua estreia, o 3 a 1 sobre o Aston Villa) não deve dar brecha para alterações no topo da tabela. Na verdade, não creio que alguém consiga tirar o tricampeonato do Manchester City, um time que dificilmente falha contra pequenos. No cenário europeu, com a instabilidade de Real Madrid e Barcelona, enxergo novamente os ingleses podendo dominar a fase final da Liga dos Campeões. Mas Messi (Barça), Cristiano Ronaldo (Juventus) e, quem sabe, Neymar (?) estarão no caminho. Caras desse nível não existem na Terra da Rainha.