Experimente responder à pergunta do título desta coluna, sobre o atual time do Bahia em comparação com o de 2019 – e você pode até esticar a dúvida para 2018, por que não? Ela é desafiadora. Enquanto os avanços do Tricolor fora de campo são evidentes, e com a inauguração do novo CT atingiram níveis antes inimagináveis, dentro das quatro linhas eles são bem mais difíceis de perceber.
Para esta temporada, o Tricolor não terá mais o velocista Artur. Sua importância era tão grande que ditava, em parte, o estilo da equipe, com o DNA do contra-ataque. Outro que não estará mais no elenco é o lateral esquerdo Moisés. O diagnóstico da diretoria, e de muitos analistas e torcedores, é que o jogador não teria mais clima para continuar no Bahia. Discordo. A visão é fatalista demais. Havia possibilidade de recuperação, e Moisés tem potencial para isso.
Com Juninho Capixaba e Zeca para brigar no setor, vejo o time com menos profundidade. Apesar de muitas vezes disperso, Moisés é mais capaz, tem maior vigor físico do que os outros dois para ser opção em ultrapassagens constantes rumo à linha de fundo.
Em 2019, um dos problemas do time foi a perda de rendimento do miolo de zaga, o que culminou na ida de Lucas Fonseca para o banco – por uma lógica crua, o Lucas de 2020, com 34/35 anos, será pior que o de 2019, quando já foi pior que o de 2018. No mercado, o Bahia ainda não conseguiu contratar nenhum zagueiro, o que poderá gerar uma carência ao longo do ano.
As contrapartidas são as chegadas de dois bons reforços para o meio-campo, setor que se enfraqueceu em 2019 depois da saída de Douglas Augusto e da lesão de Elton. A boa técnica de Daniel, que possui uma característica de armador ausente no elenco tricolor do ano passado, tem tudo para fazer o Bahia ser mais ‘amigo’ da bola na construção de jogo. O jogador foi o meia do Fluminense com maior número de passes completos (92,7% de acerto) na Série A-2019. Em 2018, Jadson, meio-campista que o Bahia contratou junto ao Cruzeiro, também atuava no Flu, e só perdeu nesse quesito para Richard. Tendo dois armadores que gostam de trabalhar com a bola, fica clara a intenção do técnico Roger Machado de mudar o estilo do time.
Duas opções
Pensando nessa dupla construtora, imaginei a equipe titular como está desenhada à esquerda no infográfico, num 4-1-4-1. Numa outra lógica crua, enxergo o esquema com dois armadores à frente de um volante melhor do que aquele com apenas um meia ofensivo à frente de uma dupla de volantes. Motivo: invariavelmente, há mais espaço para trocar passes no campo defensivo do que no ofensivo, portanto, esse meia central avançado costuma se apagar nos jogos.
Só vejo o time funcionar no já gasto 4-2-3-1 (à direita no infográfico) se o meia ofensivo atuar praticamente como um segundo atacante – a equipe defenderia no 4-4-2. Para que haja essa possibilidade de variação, e talvez somente por isso, pode ser importante a manutenção de Régis, um meia-atacante que o Bahia não tem no elenco e que, costumeiramente, é o tipo de contratação mais pedido pelos ávidos torcedores.
Um ponto que me incomoda é a possível parceria Clayson/Zeca na esquerda. Ambos são destros e gostam de puxar a bola da ponta para o meio, o que faria o time trabalhar muito por dentro. Juninho Capixaba, mesmo não sendo tão agudo quanto Moisés, poderia se encaixar melhor para que haja também a saudável alternativa das ultrapassagens.
Em duas posições, não consegui definir se o contratado supera ou não o titular em 2019. Flávio tem seu lugar ameaçado por Jadson, assim como Rossi briga com Élber no ataque. Enquanto Rossi é brigador, ajuda a defesa e gosta de entrar na área, Élber é mais habilidoso e inteligente, com sua capacidade de flutuar pelo meio, entre as linhas de marcação do adversário.
Após escrever tudo isso, preciso voltar à incômoda pergunta. Afinal, o Bahia que está sendo armado para 2020 é melhor que os de 2019 e 2018? Minha resposta é aterradora, bombástica: não sei. Temo que a evolução, se houver, seja pequena demais para fazer diferença. Dar um passo adiante será um teste e tanto para Roger Machado.