Por mais que a gente tente aprofundar a discussão, que traga detalhes táticos, analise tomadas certas ou erradas de decisão, não dá para resumir o Ba-Vi de sábado sem apontar a enorme diferença de desempenho entre os dois goleiros. Enquanto o tricolor Douglas falhou em praticamente todos os lances nos quais foi exigido, o rubro-negro Ronaldo trabalhou de maneira impecável, como nunca havia feito.
Mas estamos aqui para aprofundar a discussão, então, deixarei de lado a questão Douglas – uma questão muito importante, e que deve ser avaliada sem melindres pelo Bahia. Em linhas gerais, o clássico me mostrou um time que incomoda demais e outro que faz o básico do básico.
Não dá para querer que o Vitória, um clube mergulhado numa crise administrativa e financeira, apresente algo muito melhor com um elenco que, de acordo com seu presidente, não alcança R$ 1 milhão na folha salarial. Usar a estratégia de se fechar para explorar contra-ataques é totalmente compreensível nesse cenário.
Por esse motivo, e também pela habilidade em lidar com os problemas extra-campo, o time tem o técnico certo: Geninho. Apesar de professor da Velha Guarda, aos 71 anos, ele consegue colocar um mínimo de modernidade nas ações da equipe, que em vários momentos parte para a pressão no campo ofensivo e tem sido eficaz no ataque ao adversário que está com a bola.
Destaco um cinturão de marcação rubro-negro que resultou em roubada de bola na intermediária ofensiva já no segundo tempo, quando o Leão vencia por 2 a 0 e poderia ter assumido postura ainda mais conservadora. Após perda de bola, cinco atletas cercam os volantes tricolores e recuperam a posse, evitando a transição rápida do rival e ganhando tempo de jogo (número 2 no infográfico).
Outro aspecto positivo foi a seleção de alguns jogadores baratos que têm provado eficiência. No Ba-Vi, além de Ronaldo, brilhou Fernando Neto. Nas poucas ocasiões em que o time saiu da defesa ao ataque com a bola no chão, o meio-campista participou com inteligência para clarear as jogadas. No lance número 1, ele é acionado por Léo Ceará, espera a chegada de dois marcadores e devolve para Léo já com muito campo à frente. Neste caso, ajudou também a recomposição falha do Bahia, que não contou com o retorno de nenhum dos quatro atletas que cercavam Léo Ceará.
Em poucos momentos da partida, o Tricolor foi capaz de trabalhar de maneira rápida para vencer linhas de marcação do Rubro-Negro. Havia muito receio para passar a bola pelo meio ou virar jogadas, e faltam mecanismos para que os jogadores façam as triangulações sem precisar pensar muito. Destaco no campinho número 3 do infográfico uma jogada típica de saída de bola do Esquadrão. Gregore tem a opção de virada para Élber, totalmente livre, mas prende a bola até dois rivais fecharem a linha de passe, e aí ele toma a decisão mais fácil, de dar o passe lateral para João Pedro.
Diante do grande problema, que era o triunfo parcial do Vitória por 2 a 0, Roger apelou já no intervalo para a retirada de um meio-campista e a formação de uma equipe com quatro atacantes, o que gerou o gigantesco buraco registrado no campo número 4. O Bahia precisava ter o controle total da partida, e não partir para um desespero desenfreado que fez o time terminar o jogo com 49 cruzamentos à área, sendo 31 apenas na segunda etapa – a equipe com maior número de cruzamentos no Brasileirão de 2019, o Flamengo, teve média de 25,6 por duelo.
Desconfio que Roger Machado começará a sair de sua rigidez de pensamentos a partir do próximo jogo, amanhã, quando o meio-campista Ramon, dos aspirantes, pode ter chance. Mas não vai adiantar se a ideia de jogo continuar imperceptível, presa num mero discurso.