Nunca vi um Leão ter medo de zebra. Eu tenho. Ou pelo menos tinha antes deste triunfo moralizador do Vitória diante do Lagarto, por 3 a 1. Basta olhar um time desconhecido no caminho do Vitória para dar aquele frio na espinha, não vou mentir. Não é pessimismo, é trauma mesmo. Todo sorteio da Copa do Brasil eu cruzo os dedos para pegar algum time mais conhecido, como o Vasco por exemplo. Ou, quem sabe, o Vasco. É bom demais enfrentar o Vasco, né?
Voltemos a resenha. Prefiro mil vezes enfrentar um Palmeiras (ou Vasco) a um Lagarto da vida. Sem sacanagem. Desde o último domingo, após aquele acidente de percurso no Ba-Vi do Barradão, eu dormia e acordava pensando no Lagarto. A Copa do Brasil é uma competição que merecemos vencer. E podemos. Porém, quando não pegamos um time muito acima da média nos momentos decisivos, nos engasgamos com as zebras infernais no começo da competição, como as bestas do apocalipse Baraúnas, J. Malucelli e Salgueiro.
Curiosamente, há 10 anos o Vitória chegava na final da Copa do Brasil diante do Santos. Em março daquele mesmo ano, tínhamos perdido para o Corinthians de Alagoas, por 3 a 1, na casa deles. Era uma zebra em potencial. Entretanto, no jogo de volta, mais precisamente no dia 10 de março de 2010, metemos 4 a 0, com gol de Viáfara e tudo. Só paramos na final. Depois de 2010, sofremos com as zebras. Nem precisava de um bom elenco. Em 2011, um ano depois daquela final épica, aquele limitado time de Lopes perdeu na primeira fase para o Botafogo-PB. Em 2013, o grupo que foi quinto colocado no Brasileirão (e meteu 7 a 3 no rival) perdeu para o Salgueiro, na segunda fase. Depois disso, foi uma sequência de desgraças. Em 2014, saímos para o J. Malucelli. Um ano depois, para o ASA. Ano passado, o Moto Club nos tirou.
Depois de tudo isto, como você acha que nós, rubro-negros, ficaríamos sabendo que o Lagarto estaria no nosso caminho? Não pude ir ao jogo, acompanhei da TV. Acendi uma vela para Ogum, outra para Santa Rita de Cássia. Assim que começou o jogo, relaxei. Era tudo bobagem da minha cabeça. Não sei se foram as velas que acendi ou o que Geninho falou nos vestiários, mas o Leão parecia estar enfrentando o Vasco. No comecinho, Vico me fez relaxar com o primeiro gol. Aos 40, Léo Ceará, o deus da discórdia, o anti-herói rubro-negro, me fez até abrir uma cerveja.
Pode acreditar. Um minuto depois do segundo gol, faltou luz aqui em casa. Nem vi o Lagarto diminuir. Nem precisava. Vico novamente virou o antídoto de qualquer medo de zebras. Um golaço, por sinal. Naquele momento, na cadeia alimentar do Barradão, a zebra tomava seu lugar de origem: alimento de Leão.
Esta noite era nossa, parecia aquele 2010 de Ricardo Silva. Não tínhamos um bom time naquele ano. Tínhamos muita raça, como este de Geninho. E, como todo torcedor consciente e pés no chão, já comecei a pensar numa possível final contra o Flamengo. Ou contra o Vasco...