Nascemos no luxo, viemos para o lixo. Eu nunca me incomodei muito com a denominação jocosa sobre nosso estádio. É mais ou menos como apelido de escola. Quanto mais você se estressa, mais a alcunha gruda na sua vida. A história do Vitória não pode ser tratada de forma pejorativa, não por nós, rubro-negros. Muito pelo contrário. O Leão, fundado em bairro nobre e elitista, tem um papel social de extrema importância na cidade. Não, o Barradão não é um lixão. É um instrumento de transformação de toda uma comunidade que vivia nela. Foi graças ao nosso templo que o bairro de Canabrava não é mais um grande lixo a céu aberto.
No passado, o Barradão chegou para transformar um retrato de extrema pobreza. Atualmente, Canabrava é um bairro popular, com infraestrutura, urbanismo, mobilidade e mais dignidade a milhares de famílias da capital baiana. Pronto. Tanta constatação para chegar a um denominador comum: Por que o Barradão ainda não foi oferecido como apoio no combate ao coronavírus? Ceder o estacionamento para vacinação contra a H1N1 é pouco.
A crise financeira é global. No Vitória não seria diferente, com um agravante de viver na pindaíba bem antes da pandemia chegar ao Brasil. Porém, mesmo com esta preocupação financeira, o Rubro-Negro não pode esquecer seu papel social, principalmente na região que foi transformada pelo próprio clube.
Estima-se que o bairro tenha pouco mais de 8 mil moradores, fora as comunidades próximas, também beneficiadas pela ação social do Leão. Levando em consideração que a pandemia no estado ainda não chegou no seu pico de contaminação, é inevitável que a localidade sofra com o contágio e, infelizmente, com possíveis mortes. O complexo do Barradão seria providencial para diminuir a distância entre infectados e a saúde pública, além de descongestionar os postos de saúde.
Muita área
Além do estádio e do estacionamento, o Leão tem o complexo utilizado para o Vitória Cidadania, onde o clube atende crianças e adolescentes em estado de vulnerabilidade social, com quadras, campos, banheiros e vestiário. É justamente no lugar onde acontecem as eleições no Leão. O rival tem tido mais ações positivas em relação à pandemia, principalmente no quesito ajuda direta ao povo baiano. Não quero perder este Ba-Vi humanitário. No Leão, medidas preventivas com seus funcionários e atletas foram feitas.
No quadro de colaboradores, boa parte está trabalhando de casa, assim como seus atletas. Só vai no clube quem precisa fazer trabalhos essenciais de manutenção. Aos 69 anos, o presidente do clube, Paulo Carneiro, faz parte do grupo de risco e está em casa, com seu dedo nervoso e chuvas de likes nas redes sociais, principalmente no Twitter.
Em duas postagens, nosso cartola dá os parabéns para o governo Bolsonaro, que construiu hospitais de campanha (não sei se é verdade). Em outra publicação, Carneiro afirma que o “isolamento social vai escancarar a favelização das grandes cidades”. Ora bolas, presidente! Junte as duas coisas e empreste nosso Barradão. Você mesmo iniciou a transformação daquele bairro. Agora continue o legado social, mas sem precisar sair de casa...