A rotina de uma quarentena nos leva a pensamentos e filosofias de uma sociedade em transformação. A mente se torna um leque de questionamentos sobre o que fazer para melhorar o mundo. Neste livre pensar, abro minha mente sobre os maiores problemas mundiais, o que me leva ao pensamento mais tântrico possível neste período de isolamento social: goleiro da base rubro-negra só faz se lascar no time principal. Tem mais. Nosso passado os condena.
Todo garoto de luva que passa pela divisão de base do Vitória parece carregar o peso de um DNA que atrapalha mais do que ajuda. O goleiro prata-da-casa precisa carregar a genética de Dida e companhia, como um carimbo de autenticação para quem pretende ser titular do time principal um dia. Tive até a ousadia de identificar empiricamente este fenômeno social rubro-negro: Didaísmo. É uma pressão eterna. Se não tiver o mesmo mapa genético do ídolo rubro-negro, não presta. Nunca prestará, melhor um goleiro de fora mesmo.
De 2010 a 2020, tivemos 12 goleiros da base que tentaram um lugar ao sol. Não quero dizer que todos mereciam a camisa número 1 do time profissional, mas o Didaísmo destruiu sonhos e possíveis ídolos. Podem bater panela contra minha pessoa, mas Caíque foi um injustiçado. Claro, ele teve sua parcela de culpa, porém, sua precoce ida ao time principal acabou contribuindo para um ‘homicídio’ profissional do atleta. Em 2016, com a contusão de Fernando Miguel, Caíque, com 18 anos, entrou para atuar em pleno Ba-Vi. Foi o destaque, inclusive no clássico da final, que deu o título baiano. Em cinco jogos, levou apenas dois gols no estadual. O que fizemos? “Ah, temos um novo Dida!”. Lascou-se...
Tamanha pressão fez a torcida pegar no pé do garoto ainda cheirando a leite. Contrato novo, carrão na garagem, constantes convocações para a seleção sub-20 e propostas de fora. Afobação do capeta. O que era um futuro promissor se tornou a solução dos problemas atuais. Meteram o garoto na Série A. Em oito jogos pelo Brasileirão, acabou levando 14 gols. Já não prestava mais. A má vontade se estendeu e não sossegou enquanto ele não saísse, enfim, do clube. Não quero que esqueçam das falhas bizarras, isto também me matou de raiva. Porém, atribuo tais erros muito mais a uma derrota psicológica do que à falta de qualidade.
Como esquecer de Gustavo? O cara foi campeão da Copa do Brasil sub-20 em 2012, com 19 anos. Atuou em dois jogos pela Série B sem levar gol. Bastou levar quatro numa partida da Copa do Brasil para cair no esquecimento. Entre falta de chances e longas contusões, fez outros dois jogos antes da dispensa. Lembro também de Lee. Nesse caso, o goleiro caiu no azar de ser reserva de Viáfara. Saiu sem deixar legado.
João Gabriel é um dos casos mais estranhos do Vitória. Atuou em 2010, mas acabou dispensado. Retornou em 2018, sendo um dos destaques daquele elenco desastroso. Renovou contrato, mas acabou se machucando no começo de 2019. Quando estava pronto para retornar, não retornou. Treinou em separado até ser esquecido e emprestado.
Neste ritmo, só teremos goleiros de fora com a camisa 1. Eles não possuem a obrigação de ser iguais a Dida. Chegam, fazem o que podem e se picam. Rezo para que o vírus do Didaísmo não adoeça Ronaldo, tampouco Lucas Arcanjo. A pressão sobre eles já começou. Ambos podem assumir o protagonismo, mas é preciso que se tire o peso da obrigação. Ninguém será igual a Dida.