O Vitória nesta Série B é uma jangada boiando num mar calmo, sereno, um tapete de espelho d’água, quase poético para quem sempre imagina o lado bom de tudo. Contudo, falta vento na nossa navegação. Parados no mesmo lugar, não afundamos, tampouco andamos. Ganhamos uma, empatamos outra, perdemos às vezes. Uma regularidade chatinha de coadjuvante. É uma sensação de que não saímos do lugar, atracados no meio da tabela, apesar da falsa ilusão de estarmos bem no campeonato, talvez consequência dos constantes traumas que passamos nos últimos anos.
Não à toa estamos no meio da tabela. A gente nem fede nem cheira: três vitórias, cinco empates e duas derrotas. Um aproveitamento de 46%. Sem dúvida, o Vitória merece o Oscar de melhor coadjuvante. Nós, torcedores, nos iludimos com a força de vontade dos atletas. Também vibro com isso. Geralmente, quando o jogo termina, este pique dos atletas em campo traz uma sensação de que merecíamos um resultado melhor pelo nosso esforço e raça dentro de campo. Entretanto, se formos analisar com frieza, todo este gás não passou de uma energia gasta desnecessariamente após um prejuízo por conta de um gol sofrido fora de hora ou qualquer outro vacilo enquanto dormíamos no jogo. Só depois o time resolve acordar. Cresce e nos ilude. Ilude a todos: torcida, atletas, comissão técnica e diretoria. Vamos brincar de acordar? Chegamos ao 10º jogo no Brasileiro e ainda não mostramos nada além do esforço exacerbado para diminuir o prejuízo.
Nos últimos dois jogos fora de casa, o Leão trouxe um ponto, após empate com o Juventude, além da derrota para o Cruzeiro. Apesar de perder ‘apenas’ duas como visitante, o Vitória é um dos seis clubes que ainda não venceram longe de seus domínios. Empatamos seis vezes. Pensamos: “zorra, estamos arrancando vários pontos fora de casa, no caminho certo”. Calma, jovem. Pode até parecer bom, mas seria mais vantagem vencer duas e perder as demais. Sem sacanagem. Pelo menos teríamos dois triunfos no critério de desempate. A hora de arrancar o maior número de pontos na casa adversária é justamente agora, com campo neutro, se considerar a ausência da torcida. Estamos vacilando.
Ainda estamos próximos do G-4, mas nem tanto assim. Dos sete clubes que estão à nossa frente, apenas o líder, Paraná, e o Juventude, nosso último adversário, possuem o mesmo número de jogos do Leão. Ou seja, a distância para o G-4, que atualmente é de três pontos, pode duplicar no final da rodada. E assim avistamos nossos adversários navegando, enquanto aguardamos melhores ventos para seguir. Mesmo com o sinal de alerta, não podemos fraquejar e achar que não tem jeito. Tem, sim. Dentro de casa ainda mostramos força. Somos o terceiro melhor mandante, com 83% de aproveitamento. O Barradão, mesmo sem torcida, voltou a ser nossa principal força. Só voltamos a jogar no sábado, dia 26, contra o Oeste, em casa. Tempo suficiente para Pivetti trabalhar esta energia gasta à toa e aprender a remar com a falta de vento.
Quanto à diretoria, resta também uma reflexão sobre reforços que podem fazer este barco andar. No início do ano, o presidente do clube, que já havia contratado nove atletas, garantiu que o grupo estava 99% fechado. Já foram outros nove jogadores contratados desde então, sem contar as prováveis confirmações de Bolota e Juninho Quixadá. São 20 novos tripulantes esta temporada, bicho. Um clube com a grana curta e salários dos seus funcionários chegando ao terceiro mês de atraso não ajuda, só atrapalha. Recentemente foi paga a folha de junho dos colaboradores que não pertencem ao seleto grupo dos atletas. Excesso de peso e motim também fazem o barco encalhar. Ou afundar...