A imprevisibilidade é uma das características mais fortes do futebol e é justamente uma daquelas que tornam esse esporte tão apaixonante, mas ela parece estar mais acentuada ainda nesta atípica temporada para o Bahia. A equipe vem passando por uma metamorfose a cada partida, seja na forma de atuar, na qualidade da atuação ou nos resultados. Se entre um jogo e outro do Brasileiro as mudanças são nítidas e não obedecem a determinado padrão, parece possível dizer que o Bahia é um no Nacional e outro, com características bem diferentes, na Sul-americana.
Uma das diferenças mais notórias está relacionada à defesa. Se no Brasileiro o Bahia tem a segunda maior média de gols sofridos, com 1,60 (37 em 23 jogos), na Sul-americana tem média muito inferior, de 0,33 (dois em seis partidas). Apesar de o universo de análise ser muito menor no torneio continental, é uma diferença de quase cinco vezes na média de gols sofridos entre uma competição e outra.
Outra diferença gritante tem a ver com a quantidade de vezes que um goleiro do Bahia saiu de campo sem ser vazado. E, nessa estatística, a diferença na quantidade de jogos entre um certame e outro ajuda a causar um maior espanto. No Brasileiro, foram apenas três vezes em que isso aconteceu, nos triunfos contra Coritiba, Vasco e Botafogo, em 23 rodadas. Com um número bem menor de partidas pela Sul-americana, o Bahia conseguiu passar quatro jogos sem sofrer gol, uma vez contra o Nacional, do Paraguai, outra contra o Melgar, do Peru, e nos dois confrontos contra o Unión Santa Fé, da Argentina, sendo vazado em apenas dois dos seis compromissos.
A metamorfose segue até dentro da própria Sul-americana. O futebol vistoso de três das quatro primeiras partidas da competição deu lugar a um estilo mais competitivo, mais brigador nas oitavas, contra o Unión. Se o ataque foi o destaque nas duas primeiras fases, com 10 gols em quatro partidas, a defesa foi o ponto forte nas oitavas, passando sem sofrer gol algum. Essa diferença, entretanto, é mais fácil de ser atribuída à diferença de nível entre os adversários, já que o Unión era uma equipe mais forte. E a qualidade dos oponentes deve seguir aumentando nas próximas etapas.
A verdade é que metade das fases possíveis já foi superada até o momento e o Bahia segue em busca de fazer história na Sul-americana. Ao superar o Unión, já igualou a marca de 2018, quando também chegou às quartas, na melhor campanha do clube na competição até então. Naquela ocasião, o Tricolor havia eliminado Blooming, da Bolívia, Cerro, do Uruguai, e Botafogo. O desempenho era um pouco inferior, entretanto, com 10 pontos ganhos, contra os 13 atuais.
Hoje à noite, o Bahia poderá ficar como único representante do país no restante do torneio ou, caso o Vasco passe pelo Defensa y Justicia, da Argentina, poderá ter o encontro marcado com o alvinegro carioca na próxima fase para definir qual o representante brasileiro na semifinal da competição. Caso os argentinos sejam os classificados do confronto de hoje, o Esquadrão teria uma equipe do país pela frente pela segunda vez na atual edição.
Fora a empolgação com a campanha na Sul-americana, o Bahia não pode esquecer a importância de retomar os bons resultados no Brasileiro. Depois de três triunfos consecutivos, foram duas derrotas. No próximo sábado, é fundamental um novo triunfo na Fonte Nova, contra o Ceará, para reabilitar a equipe.