Há uma regra geral para o sucesso, seja ele na carreira, nos negócios, no esporte ou nas mais diversas esferas da vida: ninguém o alcança sozinho. E com base nesse raciocínio óbvio, me ouso a prever: o Vitória tem tudo para amargar mais uma triste temporada. É a única conclusão possível ao ver um clube envolto numa dívida de curto e médio prazo na casa dos R$ 50 milhões, sem profissionais nas direções de futebol, médica, de base, social, financeira e de marketing. As decisões se concentram pura e exclusivamente na figura do presidente Paulo Carneiro.
Ah, mas você pensa: o clube até última a quarta-feira tinha um vice-presidente em exercício. Desconhecido para a grande maioria da torcida, Luiz Henrique Viana, sob a justificativa de problemas pessoais, anunciou que renunciaria ao cargo, voltou atrás pouco depois e pediu licença de 90 dias. A verdade é que, com ou sem ele, pouco muda. Luiz, apesar de ligado à parte financeira do clube, não tinha participação efetiva nas decisões do futebol. No atual estatuto, inclusive, só quem assina é o presidente.
Trinca tida como base de apoio de Paulo Carneiro, os ex-presidentes Alexi Portela e Adhemar Lemos e o ex-vice-presidente Manoel Matos também sempre estiveram fora dessas decisões futebolísticas. Uma base já desfragmentada, vale ressaltar, já que, também na última quarta, Manoel Matos, através de uma carta endereçada à imprensa, anunciou sua retirada dessa base, com direito a duras críticas ao presidente, a quem atribuiu conduta inadequada para o cargo.
Essa sim, uma ausência bastante significativa. Afinal, coube a Manoel, apesar de jamais ter exercido oficialmente um cargo na atual gestão, liderar o clube em ações importantes. Inicialmente, comandou a área administrativo-financeira na redução das despesas nos dois primeiros meses dessa gestão. Por sinal, assumiu o pepino sozinho nos 30 dias iniciais em virtude da ausência de Luiz Henrique, em viagem. Já sem atuação direta nesse setor do clube, devido a discordâncias com atitudes e decisões do presidente, Manoel conduziu, também em 2019, toda a negociação para o Vitória mandar seus jogos na Fonte Nova.
Mais recentemente, esteve à frente também das tratativas com a Rede Globo. Negociação que garantiu o recebimento por parte do Leão, neste mês de janeiro, de R$ 3 milhões, e mais R$ 5 milhões a receber em 2024. Também coube a ele elaborar o plano de destinação dessa verba inicial, direcionada para pagar os vencimentos atrasados de funcionários, atletas e bolsas dos jogadores da base.
Ainda à disposição para tentar ajudar, Paulo Carneiro tem Alexi e Adhemar. Para isso, precisa apresentar, de forma tardia, sinais de humildade e entender que precisa de ajuda. Está claro que ao seguir centralizador, o que eu, sinceramente, acredito que aconteça, tudo tende a piorar. Se segue se vangloriando da sua importante contribuição dada ao clube no passado, o presidente precisa enxergar os erros do presente. São duas disputas de Série B na iminência de um rebaixamento para a Série C.
Na última temporada, teve total responsabilidade na montagem de um elenco deficitário, apesar da folha salarial beirar os R$ 1,4 milhões – que o clube não tem receita para arcar – e o sofrimento só acabou na penúltima rodada. É se cercar da ajuda de quem ainda resta e trazer o torcedor para o lado do Leão, missão para a qual o presidente apresenta evidente inabilidade, com destemperados bate-bocas com rubro-negros em redes sociais. É hora de acordar.