O jogador Dudu Cearense, 26 anos, vive uma felicidade dupla com a indicação de Salvador, onde fixou residência, e Fortaleza, sua terra natal, como sede da Copa do Mundo do Brasil, em 2014. Antes, porém, ele sonha com a convocação para disputar a próxima Copa de 2010, na África do Sul.
Alexandro Silva de Sousa nasceu em 15 de abril de 1983, em Fortaleza, no Ceará. O volante, que já foi convocado 12 vezes para a Seleção Brasileira, atua hoje no Olympiakos, da Grécia, onde sagrou-se este ano campeão nacional.
Dudu Cearense começou jogando peladas em Fortaleza, na Vila Manoel Sátiro. Em seguida passou a freqüentar a Escolinha do Professor Paiva, no mesmo local. Depois começou a jogar futsal pelo BNB e na AABB. Aos 15 anos fez um teste na categoria Sub-20 e assinou um contrato com o Ceará. Sem chegar a ter oportunidades, mudou para o União E.C., onde foi campeão de um torneio na classe Sub-15.
Nessa época, Jacome Pastore, olheiro do Vitória (Bahia), já entrava em contato com os dirigentes do clube baiano. No final de 1998, Dudu partiu para Salvador, onde permaneceu até 2003, quando foi negociado para o Kashiwa Reysol, do Japão. Atuou posteriormente no Rennes, da França, e CSKA Moscou, da Rússia.
“É uma felicidade dupla a indicação de Salvador e Fortaleza como sedes da Copa do Mundo de 2014, aqui no Brasil. Meus pais e parentes moram na capital cearense, mas a família da minha mulher é daqui e hoje me sinto baiano, também”, comemorou Dudu Cearense.
A sua primeira convocação para as divisões de base da Seleção Brasileira aconteceu em 2002, quando atuava pelo Vitória e no ano seguinte foi campeão mundial Sub-20 e da Copa das Confederações em 2005.
Confira entrevista
EDMILSON FERREIRA - Neste sábado tem jogo da Seleção Brasileira pelas Eliminatórias da Copa de 2010, na África do Sul. Quando é que você vai voltar a ser chamado pelo técnico Dunga?
DUDU CEARENSE - Estou esperando uma nova oportunidade. Você sabe que não é fácil, pois a concorrência é muito grande. Tem bons jogadores. Estou trabalhando muito e quem sabe agora, após a Copa das Confederações, eu possa retornar, mas isso não é fácil.
EF - Você fez uma excelente temporada na Grécia, sagrando-se campeão nacional com o Olympiakos e o Dunga deve ter tomado conhecimento. Acredita que ainda tem chance de ir à Copa de 2010?
DC - Sem dúvida. O grupo está 80% fechado. Acho que falta um lugar ali
para mim. Estou com uma boa ascensão na Grécia, retornei à boa forma física e técnica, espero manter isso parao início da temporada, agora em agosto, e não perder o foco que é a Seleção.
EF - No total foram 12 convocações para a Seleção. Mas, desde que passou a atuar no CSKA Moscou, você foi esquecido. O que aconteceu? O futebol russo ajudou a tirar sua visibilidade?
DC - Com certeza, é um fato que prejudica, pois o futebol russo não tem muita visibilidade como na Itália, Espanha e Inglaterra. Isso dificultou, mas mesmo assim eu ainda fui convocado. Só que tive uma lesão antes da Copa América do ano passado e acabou me prejudicando para caramba nas convocações, pois estava numa sequência muito boa, sendo sempre lembrado por Dunga.
EF - E agora no futebol grego?
DC - O futebol da Grécia não tem muita visibilidade no Brasil, mas na Europa tem. E como eu falei: é ter paciência, continuar trabalhando muito e quem sabe agora nas próximas convocações, eu possa ter uma nova chance outra vez.
EF - Você tem tido contato com o Dunga? Ele lhe fez alguma ligação telefônica?
DC- Todos fazem essa pergunta, mas dificilmente ele conversa com a gente, a não ser quando é um caso sério, de indisciplina. Isso é normal. Mas a comissão técnica entra em contato algumas vezes, como o Américo Faria (supervisor), procurando saber como a gente está.
EF - O currículo vitorioso que você tem na Seleção pode ser decisivo para que na hora de definir quem vai à Copa, Dudu Cearense seja chamado?
DC- O Dunga sempre avaliou como positivo o fato do jogador ter passado pelas divisões de base da Seleção. Encarar aquela pressão. Dar o seu máximo em cada jogo, representando o seu país. É como se fosse um upgrade (atualização) de sua carreira, que ele (Dunga) vê o seu currículo e o que fez.
EF - Vamos fazer uma previsão: Uruguai x Brasil, em Montevidéu, e Brasil x Paraguai, no Recife. O que você acha que vai acontecer?
DC - Brasil e Uruguai é um jogo difícil. Lá em Montevidéu um empate será um resultado bom, mas temos que jogar para vencer, o que não é fácil. Agora, em casa, com o Paraguai, o Brasil vai vencer.
EF - Grandes craques brasileiros, como Ronaldo, Adriano e Fred voltaram a jogar no Brasil. Qual a sua opinião sobre isso?
DC – Acho que quando você vive só na Europa é muito difícil. Ainda mais para o Adriano, que é solteiro, não tem aquela vida de casado, como eu, que sou mais tranquilo. O Fred também é sozinho. E Ronaldo já tem sua história, queria voltar para o Brasil para reafirmar que ele é Ronaldo, um grande jogador, mas nem precisava. O jogador sente muito a saudade. Então é um fator que até hoje eu penso em voltar, mas não é bem assim. É preciso pensar nos prós e contra, ter cautela. Tomara que eles possam ser felizes, como eu estou na Europa.
EF - Por falar em saudade. E vestir a amarelinha é uma coisa mesmo diferente?
DC - É, muita saudade mesmo. É como você querer chegar no topo do Evereste. Para gente [jogador] é como se fosse isso. Ah, cheguei na Seleção! Mas chegar pode ser fácil, o difícil é se manter. A concorrência é grande.
EF - Japão, França, Rússia e agora Grécia. Realmente é muito lugar diferente.
DC - A experiência que passei na minha vida, eu digo que por três continentes. Adorei o Japão, Tóquio é maravilhosa, a cultura é muito boa, os japoneses adoram os brasileiros, mas a língua é muito difícil. Na França, o povo é um pouco ciumento, mas para mim já foi melhor em
termos de futebol, com força, velocidade e estilo europeu. Já quando fui para a Rússia, a minha família não se adaptou muito bem, devido ao frio, a língua, as dificuldades de fazer amigos. Ficávamos muito tempo em casa e só conhecíamos os shoppings. Não tinha uma lazer como hoje tenho na Grécia.
EF - O povo grego faz muita festa, é bem parecido com o brasileiro?
DC - A Grécia para mim é o Brasil. Vamos à praia, em shoppings, cinema, tem parque perto da minha casa, onde a minha filha pode brincar. Eu e minha família estamos muito felizes lá. Estou de férias aqui na Bahia e sinto saudades de voltar para a Grécia. O povo é festeiro como aqui. E
muito acolhedor.
EF - Já visitou alguns monumentos históricos da Grécia?
DC - Já visitei sim, o Pathernon, a Acrópole, o primeiro estádio Olímpico. É uma história muito linda. Conheci algumas ilhas, como a Santorini, Tesselonica e quero conhecer Miklos e Creta, que são muito famosas e lá
80% da população torce para o Olympiakos, então imagina o fanatismo que é.
EF - E a rivalidade com o Panathinaikos é uma coisa absurda.
DC - Para você ter uma ideia, comprando com Bahia e Vitória quando é Ba-Vi em Pituaçu só vai torcida do Bahia e, no Barradão, só os torcedores do Vitória. Por que se juntar as duas torcidas lá, o bicho pega.
EF - Como é o comportamento dos torcedores do Panathinaikos com vocês brasileiros do Olympiakos (além dele, o lateral-esquerdo Leonardo, ex-
Portuguesa, e o meio-campo Diogo, ex-Atlético/MG, atuam no atual campeão grego).
DC - É engraçado que o torcedor do Panathinaikos quando vê a gente olha e fala: ‘você é grande jogador, mas é para estar no nosso time’. Já o o do Olympiakos diz: ‘pertara olympiakara!’, ou seja, grande jogador do Olympiacos.
EF - Já está falando grego beleza ou ainda precisa aprimorar mais?
DC - É difícil para escrever, mas dá para comunicar. Por exemplo: kalimera é bom dia, kalispera é boa tarde, kalimita é boa noite. E se um grego falar: ‘ficanis’ (tudo bem?), eu respondo ‘polikala’ (tudo). Fácil mesmo é ‘piora’ (que horas são?). Agora, é muito mais fácil do que o russo, que é muito complicado.
EF - O que está achando do momento do Vitória na Série A do Campeonato Brasileiro?
DC - Acompanho o Vitória sempre, pois é um clube que tenho muito carinho, onde comecei e não vou negar minhas raízes. Cresci como atleta e como homem. Aprendi muito no Vitória e fui feliz. A Bahia me abraçou e o Vitória está crescendo muito a cada ano. Quando começa a competição, as vitórias são importantes, mas o difícil é manter. Espero que o time possa manter os bons resultados até o final da competição e na Sul-Americana fazer um bom papel. É preciso ter atitude também fora de casa e ir lá para vencer. O futebol hoje é mais psicologia.
EF - Ramon retornou à Toca do Leão e, recentemente, foi a vez de Leandrinho. Será que um dia Dudu Cearense volta a jogar no Vitória?
DC - Quem sabe, né? Hoje eu penso de voltar ao Vitória, mas não sei o que vai acontecer daqui a 10 anos. Tem muita coisa para rolar ainda. Torço muito para Vitória e adorava ouvir a torcida gritar meu nome. Mas estou vivendo um momento muito feliz na Europa e espero crescer cada vez mais.
EF - Na sua época, no Vitória, ele era o presidente do clube e, hoje, é o gestor de futebol do Bahia. Como você analisou essa mudança de Paulo Carneiro?
DC - É estranho, né? Você ver seu presidente do Vitória ir para o maior rival. É complicado, mas ele [Carneiro] é profissional. Hoje em dia tem que ser assim e tentar fazer o melhor. Como jogador você vai para um equipe onde os torcedores te odiavam e tem que fazer o melhor. Conheço muito o Paulo. Todas as vezes que venho aqui, nós nos encontramos na casa de um amigo em comum e espero que dê tudo certo para o Bahia. Agradeço muito a ele pelo que fez comigo no Vitória. Lembro que quando tinha 17 anos e estava no profissional, não atravessava um bom momento e Paulo decidiu que eu deveria descer para os juniores para depois voltar com mais força e foi isso que aconteceu.