Uma das mais acirradas disputas políticas pelo controle do futebol europeu ocorre amanhã, quando a Uefa (União Européia de Futebol) promove a eleição de seu novo presidente, em Dusseldorf, na Alemanha.
De um lado, o sueco Lennart Johansson, presidente desde 1990, tenta permanecer no poder e manter por mais alguns anos a atual estrutura do milionário futebol europeu. Seu concorrente, o ex-jogador francês Michel Platini, promete reduzir o poder dos grandes clubes, dar mais atenção às pequenas federações e formar uma aliança com a Fifa.
Em entrevista à
Agência Estado, o diplomático Platini ainda deixou claro que apoiaria o Brasil como sede para a Copa do Mundo de 2014. E mostrou confiança na vitória: "Minha candidatura vai muito bem."
Nos últimos dias, as campanhas de ambos os lados se tornaram gradativamente mais agressivas. O sueco de 77 anos acusou Platini, de 51, de ser "despreparado" para gerenciar a entidade. O francês não deixou por menos e respondeu questionando a capacidade física do veterano cartola em continuar trabalhando por mais quatro anos.
No fundo, a disputa não é apenas entre os dois homens, mas sim entre duas formas de ver o futuro do futebol europeu e o poder de clubes dentro da estrutura do esporte. A principal proposta de Platini se refere à milionária Liga dos Campeões, que nos últimos anos tem apresentado audiências comparáveis aos principais jogos de seleções. O francês quer ampliar o número de países participantes na competição. Para isso, propõe reduzir os lugares reservados para as grandes federações, como Itália, Espanha e Inglaterra.
Hoje, esses países contam com quatro representantes na competição cada. Platini quer limitar o número para três. Com tal proposta, o francês espera conseguir votos das federações menores dentro da Uefa. Obviamente, a idéia não é bem recebida pelo G14 (grupo dos maiores clubes europeus) e nem por algumas federações, que optaram por apoiar Johansson e sua fórmula para a Liga dos Campeões, que continua dando certo.
Platini insiste que, como presidente, dará "maior voz" aos pequenos países entre os 52 membros da Uefa. Uma de suas preocupações é com a crescente disparidade entre as associações ricas e pobres e o efeito negativo que isso poderia ter para o futebol europeu. O temor é de que o volume de dinheiro em alguns clubes crie uma casta que jamais poderia ser vencida, enquanto um número grande de times apenas lutaria para não ser rebaixado. "Essa é uma questão fundamental para o futebol europeu", afirmou o francês.
Platini deixou de jogar há 20 anos. Desde então, trabalhou como técnico da seleção da França, organizou o Mundial de 1998 e foi assistente do presidente Joseph Blatter na Fifa. Ele ainda promete que combaterá o racismo, a lavagem de dinheiro e o doping.
ApoioO ex-jogador francês, porém, tem um padrinho que não agrada a muitos: Blatter, que há anos luta contra o crescente poder dos clubes europeus. Os dois trabalharam juntos, e o presidente da Fifa deixou claro que gostaria de ver Platini no comando da Uefa.
A aliança entre os dois formaria uma frente contra o poder dos clubes europeus, que criam problemas cada vez que precisam liberar jogadores para seleções nacionais e ameaçavam o monopólio da Fifa no futebol.
O francês ainda dá indicações de que, se eleito, não teria problema para apoiar a candidatura brasileira em 2014 para sediar o Mundial. "O Brasil já organizou uma Copa em 1950. Obviamente que tem plenas condições de realizá-la agora outra vez e com qualidade. Seria algo muito positivo para o futebol mundial levar a Copa de volta ao Brasil", afirmou.
Questionado sobre a falta de estrutura de estádios no Brasil, Platini minimizou o problema. "Há 50 anos, o País construiu o Estádio do Maracanã. Claro que pode fazer o mesmo desta vez. Há tempo ainda até 2014", disse. "É uma pena que o Brasil não possa votar na Uefa. Tenho certeza de que votariam por mim se pudessem", brincou o francês.
e apoiar o atual presidente contra o francês.
Johansson também tem os votos de associações de peso, como Espanha, Inglaterra, Holanda, Turquia e Noruega.
Tanto a Federação Francesa de Futebol como o governo do país saíram em defesa de Platini. E entre os grandes clubes europeus do G14, o único que afirmou que torce pelo francês é o Lyon.
O FIFpro (sindicato mundial de jogadores) também apóia Platini, assim como os ex-jogadores Cruyff e Dino Zoff. Mas o voto na eleição da Uefa é restrito às 52 associações.
Por isso, a definição deverá ficar nas mãos das associações com menor peso dentro da Europa e que fazem os cálculos se votam na renovação de Platini ou pelos benefícios financeiros que a Uefa de Johansson continua proporcionando.