Numa democracia, todos têm o direito de permanecer calados, como os jogadores do Vitória estão fazendo, na manifestação de silêncio e repúdio contra a imprensa baiana.
Mas este democrático protesto não vai valer nada caso os jogadores não provem, dentro de campo, contra o São Paulo, que as acusações sobre noitadas regadas a bebida alcoólica não influenciam no baixo rendimento dos atletas no segundo turno do Campeonato Brasileiro.
O clima entre a imprensa e o elenco rubro-negro não é dos melhores. Nesta quarta-feira, 22, no último treino antes da viagem com destino a São Paulo, os jogadores decidiram não conceder entrevista aos veículos de comunicação. O motivo seria um ouvinte, que na resenha esportiva da FM Itapoan, na última terça, teria dito que o meia Renan estaria “comendo água”, num local da cidade.
Para os jogadores foi um estopim. Eles se reuniram e decidiram cortar qualquer relação com a imprensa. O único que se pronunciou foi o volante Vanderson, que ainda não sabia do pacto feito entre seus colegas. “Não estou sabendo de nada. Saí antes do treino e não soube de nenhum pacto”, disse.
Já os demais chegaram a ironizar. A revelação Marquinhos, ao ser abordado pelos repórteres, foi direto: “hoje não dá, pai”, disse o atacante, virando as costas em seguida. O lateral Marco Aurélio ainda foi além. Assegurou que tinha fotos comprometedoras de cronistas com mulheres e muita bebida. Ele não citou nomes.
O clima ficou mais pesado durante a reunião dos jogadores, onde foi decidido o pacto de silêncio. O repórter da Rede Bahia, Eduardo Oliveira, se aproximou para tentar ouvir os jogadores, mas foi hostilizado pelo assessor do clube, Roque Mendes.
O funcionário do Vitória se irritou com o jornalista e resolveu partir para agressão moral. Com o dedo apontado para a cara de Eduardo Oliveira, ameaçou expulsar o repórter do Barradão, alegando que “os jornalistas trabalham onde o Vitória quiser”. Ainda disse que o profissional estava fazendo “molequeira”.
Após a confusão, mais uma reunião a portas fechadas, desta vez com a comissão técnica.
O técnico Mancini entende o procedimento dos seus comandados. “Existe realmente a revolta. A partir do momento que respeitamos todos vocês aqui, também queremos respeito. Algumas pessoas (da imprensa) estão ultrapassando os limites, olhando a vida pessoal de cada um aqui. Eles se sentem lesados com isso tudo”, afirmou o treinador.
A diretoria não se manifestou, pois o presidente do clube, Jorge Sampaio, já havia viajado para São Paulo. Porém, o cartola não liga muito para as supostas noitadas dos atletas, inclusive afirmando que é “normal qualquer jogador tomar umas cervejas”.
Isso não é pensamento de todos. Os dirigentes do Paraná puniram alguns jogadores que estariam perdendo noite em boates em pleno momento decisivo da Série B.
O silêncio dos atletas é por tempo indeterminado. Porém, o mais importante é saber que os jogadores rubro-negros não vão jogar contra os repórteres baianos. Será contra o empolgado São Paulo, que nunca perdeu para o Leão no Morumbi, pelo Brasileirão. De quebra, o tricolor só foi derrotado uma vez no seu território, nesta Série A.
FICHA TÉCNICA:
SÃO PAULO: Rogério Ceni; André Dias, Rodrigo, Miranda e Jean; Jorge Wagner, Hernanes, Zé Luis e Hugo; Dagoberto e André Lima. Técnico: Muricy Ramalho.
VITÓRIA: Viáfara; Leonardo Silva, Thiago Gomes e Anderson Martins; Marcelo Cordeiro, Wallace, Vanderson e Jackson; Willians Santana, Marquinhos e Robert. Técnico: Vágner Mancini.
QUANDO: 23/10/2008, quinta-feira, às 19h30.
ONDE: Estádio Cícero Pompeu de Toledo (Morumbi), em São Paulo.
ARBITRAGEM: Héber Roberto LOpes (PR/FIFA). auxiliado por Aparecido Donizetti Santana (PR) e José Carlos Dias Passos (PR).