Para o ex-campeão da F-1, não há como desenvolver pilotos e público sem uma pista permanente
Além do aniversário de 40 anos do primeiro título mundial, Emerson Fittipaldi entra no noticiário por um outro importante motivo: é ele o idealizador e quem promove a 6 horas de São Paulo, corrida de longa duração que faz parte da série das 24 horas de Le Mans, cujo primeiro campeonato oficial está sendo realizado neste ano. É a World Endurance Championship (WEC). A largada será ao meio-dia do próximo sábado.
"Será um grande festival de automobilismo ancorado numa corrida. De um modo geral, o público brasileiro só conhece a Fórmula 1 e a Indy. Será uma chance para os fãs se interarem de outra categoria. E o principal: os carros serão a grande atração do evento. Não só dentro da pista, como fora também. Teremos exposição e drift dos carros. além de uma série de opções de entretenimento", disse Fittipaldi, em bate-papo com o ESPORTE CLUBE, que você pode conferir abaixo, onde o ex-piloto também comenta sobre o prejuízo que a falta de kartódromos traz para estados como a Bahia.
O que você pode dizer de especial sobra a WEC, que o público brasileiro ainda conhece pouco?
É um campeonato muito bem organizado estruturado e organizado. E o melhor da série de Le Mans é o grande prestígio que ela tem no automobilismo mundial. Vão competir carros de marcas fortes, como Audi, Porsche, Ferrari, Corvette... E, em 2012, pela primeira vez, um campeonato mundial foi organizado (a WEC). Serão oito provas e nós conseguimos trazer uma delas para o Brasil. Agora, nós temos as três grandes categorias em nosso País: a Fórmula 1, a Indy e a série de Le Mans.
A do Brasil é a única prova da WEC da América Latina. É uma prova do nosso prestígio?
Sim. E não só isso. Realizar as 6 horas de São Paulo abre portas para nossos pilotos em outras categorias. Fortalece o nosso automobilismo. Nas prova deste sábado, é bom frisar, teremos um piloto com chances de vitória. É o Lucas Di Grassi. Ele vai correr pela Audi, que tem um carro de ponta, e será companheiro de Tom Kristensen e do Allan McNish, que já venceram as 24 horas de Le Mans (em 2008). Isso nos protótipos, que é a principal categoria. Na GT3 (as categorias largam e correm simultaneamente), temos também pilotos fortes, como o trio (que compete junto) Francisco Longo, Xandi Negrão e Enrique Bernoldi.
Além da competitividade dos brasileiros, o evento, por ser muito longo, também terá outros atrativos ao público?
Diferentemente dos eventos tradicionais, que geralmente duram cerca de duas horas, nós estamos trazendo o espírito de Le Mans para o Brasil. Haverá uma série de alternativas de entretenimento. Dá para as pessoas levarem filhos, namoradas, esposas... Haverá parque, roda gigante, espaços para jogos, praça de alimentação, loja de souvenir, exposição e drift de carros... Como a largada é ao meio-dia, a tendência do público é chegar entre 9h e 10h. E o evento só termina à noite. Para a diversão dessas pessoas, nós teremos uma estrutura disponibilizada. O público deve ver a largada e, no decorrer do dia, pode se dividir entre seguir acompanhando a prova e se divertir no nosso espaço de entretenimento.
A partir de agora, as três grandes categorias do automobilismo têm provas em São Paulo. Dá para dizer que a cidade virou referência mundial no quesito?
Eu diria hoje que Interlagos é um dos circuitos mais tradicionais do mundo. Em 2012, ele completa 40 anos de seu primeiro Grande Prêmio de Fórmula 1. Hoje, todo piloto quer disputar uma prova lá. É uma Meca do automobilismo mundial.
Você foi bicampeão da Fórmula 1 e uma vez campeão da Fórmula Indy, mas sequer disputou uma 24 horas de Le Mans. Por que?
Eu era fã do Christian Heins (piloto paulista), quando eu era molequinho. Ele era muito ligado à minha família. Por isso, inclusive, que o meu sobrinho Christian (ex-piloto de F-1) tem esse nome. Em 1963, Heins morreu disputando as 24 horas de Le Mans. Ele escorregou numa mancha de óleo e bateu o carro, que explodiu. Isso me criou um grande trauma. Até porque ele era amigo de meu pai. Por isso, eu nunca quis correr a prova. Só em 1992, que a Mercedes quis fazer uma equipe com três pilotos da Indy nas 24 horas de Le Mans. Mas aí coincidiu com a época de uma prova na Indy e eu não pude ir a Le Mans.
Nesta segunda feira, 10, completam 40 anos do seu primeiro título da F-1. Dizem que, se não existisse Fittipaldi, não existiria Senna nem Piquet. Você concorda?
Eu iria mais longe (risos). Se não existisse Chico Landi (primeiro brasileiro na F-1), não existiria Fittipaldi. Ele era meu maior ídolo. E também era amigo do meu pai. Isso é natural. Uma geração vai criando a outra. Ver a geração do Chico, do Fangio (argentino pentacampeão mundial), me fez ter o sonho de ser piloto de F-1. E assim foi. Depois da minha geração, vieram Piquet e Senna. Isso foi extraordinário para o Brasil. Tivemos três campeões mundiais.
O GP da Itália que te deu o título de 1972 tem uma forte história por trás...
Tudo começou na quarta-feira. Meu chefe me liga dizendo que meu carro havia sido totalmente danificado em um acidente do caminhão que o transportava. E era um GP de muita pressão, pois poderia definir o campeonato. Na sexta, com o carro reserva, eu tive um treino ruim, o que deixou a equipe e a mim tensos. No sábado, o carro melhorou. Porém, no domingo, ocorreu um vazamento no tanque quase na hora da largada. Foi uma tensão muito forte. Por muito pouco eu sequer larguei. Consegui ir para o grid no último minuto, quando os carros já estavam alinhados para a volta de apresentação. Mas, no fim, deu tudo certo. Foi um dia que superou os meus sonhos.
Os grandes ídolos e eventos do automobilismo no Brasil sempre estão no Sudeste. O que acha que falta a regiões como o Nordeste para conseguir algum destaque nesse esporte?
Não só no Nordeste, mas nas outras regiões do País, é preciso construir mais kartódromos e diminuir o custo operacional dos karts. É a única forma de popularizar o automobilismo. Assim, aumentariam as chances do surgimento de outros ídolos. Depois do kart e até que se chegue à Fórmula 1, há outras categorias como a Fórmula 3 e as dos carros de turismo. Então, é preciso construir autódromos. Quando você só tem circuito de rua (caso da Bahia), ele é aberto para uma prova e depois passa o resto do ano fechado. Não há como desenvolver público e grandes competidores desta forma.