Ao centro, Peri com os jogadores do projeto Treinamento Diário
Dia 17 de novembro de 2013. Na noite daquele domingo, o programa Fantástico, da Rede Globo, exibia o drama vivido pelo ex-jogador, Perivaldo Lúcio Dantas, vulgo Peri da Pituba. Na ocasião, os brasileiros fãs de futebol assistiam incrédulos à chegada ao fundo do poço de um craque dos gramados.
O ex-lateral direito, que fez parte da histórica Seleção de 82, com Falcão, Zico, Sócrates & Cia. então vivia como sem-teto nas ruas de Lisboa. Passados poucos mais de 10 meses, é outra a realidade do baiano nascido no dia 21 de julho de 1953, em Itabuna.
O semblante de tristeza e melancolia deu lugar ao sorriso estampado no rosto. Empregado e "de carteira assinada", como ele faz questão de enaltecer, Peri é hoje funcionário do Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Saferj).
Na entidade, trabalha como auxiliar técnico do projeto Treinamento Diário. "De segunda à sexta-feira, das dez da manhã às seis da tarde", acrescenta. Atualmente, ao invés de dormir pelas vielas ou albergues de Portugal, Peri tem o próprio teto. "Moro com minha esposa (Maria Virgínia)", revelou ao A TARDE.
A nova morada - uma casa de dois quartos, localizada no bairro Coelho Neto, zona norte do Rio de Janeiro - foi alugada e cedida pela Saferj. Por sinal, o sindicato foi essencial para pôr fim ao drama de Peri.
"Devo muito ao Alfredo Sampaio, presidente da Saferj. Ele e meu filho (Marcelo) foram me resgatar em Portugal", relembrou o período que não lhe faz falta alguma.
Perivaldo viveu em Lisboa nos últimos 24 anos. Fixou residência em Portugal em 1989, depois de passagem frustrada pelo futebol sul coreano.
Ele conta, entretanto, que seu contrato em Seul era pomposo. "Por mês, ganhava uns 9 mil (dólares). Era muito dinheiro. Mas rescindi o contrato, voltei para o Rio e me disseram para ir para Lisboa, que ia aparecer um clube. Nunca apareceu proposta, e fui ficando...", conta.
Drama
Após perder suas economias e ficar desempregado, Peri passou a perambular pelas ruas da capital portuguesa. Chegou a ser cozinheiro em Porto Santo, na Ilha de Madeira, mas, por causa de um 'rabo de saia', diz, largou tudo.
"Quero nem lembrar disso", afirmou. Depois, ele viu no mercado informal uma alternativa. "Vendia, todas as terças e sábados, algumas roupas que ainda tinha. Eram camisas, casacos... Depois comprava outros produtos e tentava revender também na feira de Ladra", disse em referência à espécie de 'feira do rolo' lusitana, a mais antiga feira de Lisboa.
Resgatado, Peri tem como grande desafio na Saferj ter que lidar com o computador. "Nunca tive interesse em informática, mas agora preciso. Pego aqui e acolá uns toques. Está sendo bacana", relatou, aos risos.
Peri também é responsável pelo setor de cadastro de atletas no sindicato e dá dicas aos jogadores desempregados. Principalmente quanto ao risco do 'maldito' alcoolismo.
"Eu tive uma vida bacana em Portugal. Não culpo ninguém, apenas a mim. Bebi, gastei muito. Tive dinheiro, fui milionário, mas me prejudiquei. Bebia direto, dormia na rua por isso. Só quero estar bem acompanhado e feliz", afirmou Peri, que planeja ainda este ano voltar a Salvador. "Fui em janeiro, mas foram só dois dias. Não deu para matar a saudade do acarajé, do caruru, do vatapá", disse.