Lody vai aproveitar o evento para preparar um livro para 2016
O antropólogo Raul Lody já está com passagem comprada para Salvador. Dia 26, ele se reúne com parceiros e representantes do Senac, na sede do Pelourinho, para dar o pontapé inicial para a construção do Seminário de Gastronomia da instituição.
Como de costume, a nona edição do evento será realizada em agosto, mês de aniversário do Museu da Gastronomia Baiana. Mas o curador de ambos os projetos tem suas razões para antecipar os preparativos. Ele já está de olho em 2016, quando o MGB completa 10 anos, ocasião que ele quer comemorar com o lançamento de um livro.
A publicação será fruto dos debates e oficinas do próprio seminário, que irá reunir profissionais e estudantes da área. Feijão foi o tema escolhido.
"O feijão é um ingrediente que mostra a invenção e a memória das cozinhas de diferentes etnias e culturas. No mundo, existem mais de cinco mil tipos. E pesquisas mostram que, no Brasil, 70% da produção ainda vem da agricultura familiar", defende Lody.
"A mesa da Bahia é rica no uso dos feijões. Feijões que orientam estilos de comer, de cardápios, que identificam religiosidade, que servem de temas para se promover a comensalidade; e, ainda, que expressam assinaturas autorais. Feijões, muitos, que mostram como é ampla, diversa e plural a mesa da Bahia", acrescenta o antropólogo.
Livros no prelo
Enquanto constrói a programação do seminário, Lody aguarda a chegada de mais dois livros de sua lavra. O primeiro, que deve chegar logo às livrarias, é A virtude da gula: pensando a cozinha brasileira. O livro traz o selo da editora Senac de São Paulo e a participação luxuosa do italiano Carlo Petrini, fundador do movimento Slow Food, que assina o prefácio.
São mais de 80 artigos, entre aqueles que estavam na gaveta à espera de vir a público e novos textos escritos exclusivamente para a coletânea.
Numa época em que impera uma contradição entre a moda da gastronomia e a vigilância da balança, o autor defende uma visão mais ampla e positiva da gula.
"Eu sei que muita gente vai entender como uma apologia, mas não é bem assim. Brinco com o conceito, usando como metáfora. Eu posso ter gula de felicidade, por exemplo. Questiono a ideia da gula como pecado, esse policiamento do prazer. E também brinco com o conceito de jejum", adianta.
Dendê e pimenta
A segunda publicação é uma velha conhecida que está sendo revisitada depois de duas décadas. Tem Dendê, Tem Axé, de 1994, também está no prelo, desta vez em uma edição ampliada.
"A primeira versão era toda focada na questão simbólica. Agora incluí um capítulo de receitas", conta Raul Lody, que novamente terá a chancela da editora Pallas, do Rio de Janeiro.
E como os aromas e sabores nunca saem de sua lista de projetos, Lody também resolveu retomar uma antiga pesquisa sobre pimentas.
O conceito de comida "quente" e "fria", muito associado a cozinhas como a baiana, é seu principal norte.
Além da Bahia, onde vem com frequência, o pesquisador já está programando uma viagem de investigação ao México, onde as pimentas são sinônimo de patrimônio gastronômico. "Lá, pretendo fazer pesquisas em obras clássicas, principalmente da área de botânica".