Abará de R$ 5 pode vir acompanhado de molho de camarão ou de bacalhau
De segunda a sexta, Emanuel Possaite cumpre expediente administrativo no aeroporto. Mas, no último dia útil, ele gira o botão para assumir o lado B de sua rotina e o escritório passa a ser à beira do fogão.
Da cozinha do pequeno apartamento do Jardim das Margaridas saem 400 abarás todo fim de semana, com a ajuda da esposa Daniele. O destino é o depósito 3 Amigos, ali ao lado, onde a clientela espera o quitute para acompanhar a cerveja, em clima de bar improvisado.
"O processo leva umas quatro horas, mas o pessoal fica até tarde esperando", assegura Emanuel, que vende metade da produção só na sexta à noite. "Aí não tem horário pra acabar. Mas sábado de manhã cedo tenho que ir pra feira de Itapuã de novo, comprar mais material", arremata.
Vocação no DNA
O segredo está dentro do abará, que leva mais que feijão fradinho na receita. "Faço moqueca de siri e, quando a massa está pronta, jogo a moqueca com camarão", descreve.
A criação dessa versão contemporânea do tradicional bolinho encontra explicação no DNA. Possaite aprendeu a fazer abará com o pai. Este, por sua vez, tinha aprendido com a mãe, uma baiana de acarajé que o concebeu depois de viver uma história de amor com um piloto da força aérea inglesa de passagem por Salvador.
Isso faz tempo. Tanto que o Bahia Othon Palace ainda nem existia e era naquele terreno que o pai de Possaite ajudava a avó no tabuleiro. Com a construção do hotel, os ambulantes foram remanejados para a Boca do Rio, onde o pai do quituteiro deu continuidade à tradição, já em seu próprio bar.
"Éramos oito filhos, cinco mulheres e três homens. Como sou o mais novo, cada um foi casando, tomando seu rumo, e eu fiquei por último. Então era eu que ajudava meu pai", conta o rapaz de 32 anos.
Com tudo dentro
Depois da morte do pai, em 2006, foi o próprio caçula que tomar seu rumo. O depósito de bebidas, em sociedade com mais dois amigos, foi a empreitada escolhida. Mas a fama do abará da família o perseguia. "O pessoal começou a cobrar aqui também", conta.
Para ser prático, o jeito foi criar um bolinho já com tudo dentro. Pra acompanhar, um molho que lembra uma moquequinha de camarão seco. Quem tem alergia encontra a versão sem o camarão. E o molho também pode ser de bacalhau.