Presidente tem criado uma sucessão de agendas negativas para ele próprio
Contam em Brasília que, certa vez, Ulysses Guimarães, o maestro da Constituição de 1988, descia a Esplanada dos Ministérios. Numa esquina, o motorista perguntou:
— Esquerda ou direita, Dr. Ulysses?
E ele, de bate-pronto:
— Sinalize à esquerda, mas dobre à direita.
O episódio era sempre usado para ilustrar a fineza da sagacidade no jogo político, uma habilidade dos bem-sucedidos na arte de dizer não sem machucar.
Gols contra — É uma habilidade que Dilma não tem e se deu mal, Bolsonaro não tem e ninguém sabe no que vai dar. Veja você. Anteontem, ainda no encontro com os governadores do Nordeste, ao saber que o ministro Paulo Guedes (Economia), amigo da gema, disse que se a reforma da Previdência não passar ele cai fora, um show de inabilidade:
— Ninguém é obrigado a continuar. Logicamente, ele está vendo uma catástrofe.
Percebeu que poderia causar um terremoto (na economia), puxou o freio. Disse nas redes sociais que ‘o casamento’ dele com Guedes ‘está mais forte do que nunca’. Se com os da gema é assim, imagine o resto...
Ora bolas, Bolsonaro (com a ajuda familiar) esbanja inabilidade, criando uma sucessão de agendas negativas para ele próprio. A Previdência nem aconteceu e ele já anunciou o corte de verbas nas universidades. Nem bem isso sarou, outra agenda do mal, o decreto que liberava fuzil. Se Ulysses visse isso diria que assim não vai dar.
Irmã Dulce, a comenda
Se viva fosse, Irmã Dulce estaria completando 105 anos hoje. Morreu aos 77 anos, em 13 de março de 1992. O deputado Aderbal Caldas (PP) lembra as datas para dizer que o projeto de resolução por ele apresentado, instituindo a Comenda Irmã Dulce, deve ser aprovado esta semana:
— É para ser dada a pessoas que prestam relevantes serviços sociais e só uma por ano. Os líderes já assinaram dispensando as formalidades.
Zé Ronaldo vai para o governo
Zé Ronaldo (DEM), que ano passado renunciou a prefeitura de Feira de Santana para disputar o governo e se deu mal, está a um passo de integrar o governo de Bolsonaro na Bahia.
Já ofereceram o comando da Funasa, ele recusou. Segundo os amigos mais chegados, prefere alguma coisa tipo Codevasf. Colbert Martins (MDB), prefeito de Feira, confirma:
— Alguma coisa ligada ao sertão é mais a cara dele.
Bahia perde com royalties
As estimativas divulgadas pela Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANP) para a Bahia até 2023 não são muito boas para a Bahia, estado pioneiro na exploração petrolífera. A Bahia, que no conjunto arrecada hoje R$ 206,5 milhões, vai cair para R$ 168,1 milhões.
Madre de Deus, que mais arrecada, cresce, de R$ 31,6 milhões para R$ 35,4 mi. São Francisco do Conde, o 2º maior, cai de R$ 28 milhões para R$ 22,7 milhões.
Sidônio apoiou Haddad, mas votou com Bolsonaro
Médico, 72 anos, prefeito pela terceira vez em Antas, caminhando para o quarto mandato em 2020, Sidônio Nilo, irmão do deputado federal Marcelo Nilo (PSB), tem uma história interessante.
Austero, é um prefeito muito bem avaliado. O resultado se afere nas urnas do ano passado: no eleitorado de 7.500 pessoas, deu 4.915 votos ao irmão (65%), contra 829 (11%) de Zé Nunes, o segundo mais votado para federal. Lá, Rui Costa teve 5.403 (79,74%), contra 1.522 (19,51%) de Zé Ronaldo; e Fernando Haddad obteve 5.024 (67,97%), ante 1.521 (17,87%) de Bolsonaro.
Detalhe: um dos de Bolsonaro foi dele, Sidônio:
— Não fiz campanha e nem disse a ninguém, mas votei porque acreditava mais nele.
Sidônio diz que não está arrependido.
POLÍTICA
COM VATAPÁ
A tor do tatau
Início dos anos 2000, rua das Codornas, Imbuí. Um time comandado por Toninho Brown, com o promotor, hoje procurador, Advaldo Cidade no meio, fazia do lugar uma festa.
No meio, Genival , o Murrinha, ou Tabelinho, trabalhador em uma barraca, atrevido, assim chamado por trocar as letras na pronúncia, como o ‘C’ pelo ‘T’.
Ia passando uma menina, ele disparou:
— Dostosa!
Cidade regulou:
— Você sabe que mulher aqui ou é filha ou esposa de amigos nossos, não é?!
— Tontordo...
Um dia, Rafael Brito, presidente da Amib (Associação dos Moradores do Imbuí) se candidatou a vereador. Tabelinho não gostava dele, soltava os cachorros. Alguém o chamou:
— Rapaz, se segure. O homem é candidato, tem os bolsos cheios e dinheiro de política é moleza. Você só terá que, em vez de falar mal, falar bem.
Tabelinho, pensou, pensou, pediu ao interlocutor que encostasse o ouvido:
— Pimeiro eu tero ver a tor do tatau...