ACM Neto: ‘Confesso que fiquei duplamente perplexo’ | Foto: Shirley Stolze | Ag. A TARDE
Enfim Bolsonaro conseguiu a unanimidade. Contra, bem mais fácil do que a favor. Na primeira vez que entrou em cadeia nacional para falar do corona, na contramão de todas as autoridades científicas e políticas do planeta, até de auxiliares, culpou a imprensa ‘pela histeria’ e chamou a pandemia de ‘gripezinha’.
Pegou tão mal que incomodou até aliados de sempre, como Ronaldo Caiado (DEM), governador de Goiás, que tirou o pé fora e bateu:
– Quando se vê uma declaração como essa, de dizer que é um resfriadinho, uma gripezinha... Respeito! A ignorância não é uma virtude.
ACM Neto — ACM Neto também subiu o tom ao reagir, qualificando as declarações de irresponsáveis.
– Confesso que ontem fiquei duplamente perplexo, como prefeito e como cidadão. As declarações são lamentáveis e inaceitáveis.
Em videoconferência ontem Bolsonaro também bateu boca com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), num encontro justamente para tratar do corona.
Eis a questão: Bolsonaro desceu a ladeira, já que está brigando com ex-aliados? O panelaço disparado domingo enquanto ele falava foi bastante estridente. Seria bem mais se vissem o que ele estava falando.
Bolsonaro em si já não ajuda. Está na contramão do próprio governo dele. O Brasil espera que ele não atrapalhe mais.
A fala que ninguém ligou
De quarentena com familiares em Barra do Mendes, mas atento aos movimentos na região, Leo Santana (PP), ex-prefeito de Central e prefeiturável este ano, diz que a fala de Bolsonaro na televisão teve lá suas vantagens:
– Ninguém ligou. Todo mundo ignorou a recomendação dele para sair de casa.
Segundo Leo, a população está assustada, ainda mais com a notícia de que em Canarana, cidade vizinha, um caso deu positivo.
Olindina fica sem telefone
Retido em casa em Olindina, onde foi prefeito (hoje é o irmão , Wanderley Caldas), o deputado Aderbal Caldas (PP) diz que a população da cidade sofre duplamente, com a retenção em casa por conta do corona e com a Vivo, principal operadora que desde domingo deixou todo mundo sem telefone.
– Imagine você, trancado em casa sem poder nem se comunicar. Eu só estou falando porque trabalho com três operadoras. E os outros?
Augusto Castro é internado
O ex-deputado Augusto Castro, também prefeiturável em Itabuna pelo PSD, se internou domingo, saiu e ontem retornou ao Hospital Calixto Midlej em situação bem delicada, chegou a ser entubado.
Segundo as pessoas que acompanham o caso, todos os sintomas são do corona. Os médicos pediram os exames. Augusto tem 50 anos.
Ele esteve recentemente nos EUA e já voltou de lá com febre. Os amigos dizem que a coisa vem daí.
Feira, Camaçari e Lauro postulam a calamidade
Camaçari e Lauro de Freitas juntaram-se a Feira de Santana e também protocolaram projetos pedindo o reconhecimento de estado de calamidade, como Salvador já fez.
Em caso de perturbação da ordem, a lei prevê três níveis de incidentes, a depender da gravidade e da abrangência do fato. Os dois primeiros, mais leves, são emergência. O terceiro qualifica a calamidade.
Isso quer dizer que o gestor ganha autoridade legal até para remanejar o orçamento.
Colbert Martins (MDB), de Feira, e Antônio Elinaldo (DEM), de Camaçari, são da oposição. Mas Moema Gramacho (PT), de Lauro, é governo. Os projetos devem ser aprovados sem delongas na nova sessão remota que a Alba fará terça.
REGISTROS
O enterro de Reizinho 1
Figura muito querida e respeitada em São Francisco Conde, onde foi presidente da Câmara, o sepultamento do vereador José Reis dos Santos, o Reizinho, tinha que cumprir dois protocolos, o respeito ao morto e aos tempos do corona.
O enterro de Reizinho 2
O cortejo foi diferente. O corpo saiu à frente num carro do Corpo de Bombeiros e o cortejo atrás, todo mundo de carro. Uma paradinha na porta da Câmara, o prefeito Evandro Almeida (PP) fez um rápido discurso e ponto final.
A ilha deserta
Com as lanchas das linhas regulares proibidas de circular e os moradores reclusos, a Ilha de Boipeba, badalado point turístico de Cairu, sempre apinhada de gente, está quase deserta. Os poucos turistas até querem ir embora. Como?
Regras próprias
Mesmo liberadas para funcionar nestes tempos de reclusão por serem consideradas atividade essencial, as farmácias criaram suas regras para o atendimento. Em algumas funcionários disciplinam a entrada ainda na porta, por ordem de chegada, em todas todos usam máscaras e são protegidos por uma fita que mantém a distância.