Estatísticas do país refletem realidades pulverizadas
A média diária de mortes pela Covid-19 no Brasil é de 1.019, o equivalente a sete vezes o número de gente que morreu na explosão em Beirute, no Líbano, que comoveu o mundo na semana passada. E era inevitável chegarmos a mais de 100 mil mortos. Na Bahia, é uma média diária de 50 mortos, de um total de 3.843. E o pior: no painel nacional e no estadual, os números ruins só crescem.
Estatísticas refletem realidades pulverizadas. Se fosse possível transformar em imagens a vastidão da tragédia, veríamos que 100 mil pessoas equivalem a cidades como Eunápolis, Santo Antônio de Jesus e Valença. Só a média diária baiana já seria assustadora: imagine 50 corpos encaixotados e enfileirados.
Se esse é o cenário, e os cientistas dizem que não é hora de relaxar o isolamento, por que de ponta a ponta só se fala em flexibilizar, abrir comércio, escolas e afins? Simples. Descontrole (leia-se: desgoverno).
Babel — Cientistas dizem, majoritariamente, que faltou uma coordenação nacional. De saída, Bolsonaro debochou da Covid. Chamou de ‘gripezinha’. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, viu o sinal, baixou a decisão: governadores e prefeitos são os detentores da autoridade. Deu no que deu, a Torre de Babel se instalou.
No mundo inteiro, a Covid chegou ao pico em 50 dias e dali começou a cair. No Brasil, já se vão 138 dias, segue matando gente e CNPJs, sem que haja uma luz no horizonte. E ficamos nisso: até a vacina, seja o que Deus quiser...
E os velhos ventos sopram novos horizontes na Bahia
Já que os rios brasileiros exauriram a capacidade de instalação de hidrelétricas, os ventos passaram literalmente a soprar a favor de quem os tem. Segundo João Leão, secretário de Desenvolvimento Econômico da Bahia, é “fantástico” o impacto da implantação de unidades de energia eólica e solar no sertão.
– Temos 171 parques eólicos implantados, ao custo de R$ 16,7 bilhões, e temos 124 outros em implantação, mais R$ 13,2 bilhões. Isso significa, logo de saída, 54 mil empregos.
Outro nicho alternativo às hidrelétricas, o da energia solar, também vai bem: 29 parques implantados, ao custo de R$ 3,4 bilhões, e 44 outros em implantação, R$ 10,7 bilhões.
O melhor: ainda há vasto espaço para os dois.
Prefeitos com Covid na pele
Júlio Pinheiro (PT), prefeito de Amargosa, é o mais novo integrante da lista de gestores baianos com Covid-19. Embora a UPB não tenha números precisos, porque divulgar tais casos depende da decisão pessoal de cada um, a lista, segundo cálculos oficiosos, chega a 35. No calor da campanha eleitoral pandêmica, alguns, como Marão (PSD), de Ilhéus, viram alvos. Adversários dizem que infecção dele foi fajuta.
Cuma, o que morreu vivo
Aos 81 anos, cinco vezes prefeito de Itabuna, Fernando Gomes, o Fernando Cuma, está sendo levado pela Covid a um final de carreira melancólico. Primeiro, virou notícia nacional ao dizer que ‘morra quem morrer, vou abrir’. A decisão do juiz Ulysses Salgado (1ª Vara da Fazenda de Itabuna), determinando extinção do mandato dele, é de 1ª instância, ele recorre e completa o mandato, mas dizem que é o preço do ‘morra quem morrer’...
A pandemia que caiu bem
Prefeito de Porto Seguro na festa dos 500 anos do Brasil, em 2000, Ubaldino Júnior (PROS) até dias atrás respondia a processos ainda daquele tempo. No último deles, de 2012, foi condenado a ficar inelegível até o dia 7 de outubro deste ano, três dias após o pleito. Com o adiamento, ficou elegível. O ministro Edson Fachin, do STF, disse em parecer que a PEC de adiamento das eleições em nada influi nisso. E Ubaldino soltou foguetes. É candidatão.
POLÍTICA COM VATAPÁ
Questão animal
Animais soltos nas ruas (bois, cavalos, jumentos e, principalmente, cabras) sempre foi um problema na história de Glória, cidade perto da barragem do Moxotó, a 9 km de Paulo Afonso, sertão baiano pleno, tido como o lugar mais seco do Brasil.
Vem desde os tempos do Império, quando o então lugarejo chamava-se oficialmente Vila de Nossa Senhora da Glória do Curral dos Bois e tido jocosamente pelo povo como Porto dos Cachorros.
Em 2010, a prefeita Vilma Negromonte mobilizou a comunidade para desencadear uma campanha de combate à criação de animais soltos, sem sucesso (até hoje).
João Ferreira, primeiro prefeito da cidade, sabia que o problema era difícil, mas jurou:
– Ao menos no meu local de trabalho eu resolvo.
Botou na porta da prefeitura, praça principal, uma placa com aviso em letras garrafais: “Colabore com a administração. Não amarre jumento na porta da prefeitura para não prejudicar os que estão dentro”.