Todo mundo dá risada, mas o comediante venezuelano Benjamin Rausseo garante que leva a sério sua candidatura a presidente nas eleições de dezembro, em que tentará tirar Hugo Chávez do poder.
Rausseo, que fez carreira com shows de piadas vulgares, busca aprovação das autoridades eleitorais para concorrer contra o popularíssimo Chávez.
O Conde do Guacharo, como é conhecido no meio artístico, disse na terça-feira a jornalistas ser o melhor homem para enfrentar Chávez, porque tem mais semelhanças que diferenças com o presidente.
"Ambos somos feios, temos cabelo "ruim", ambos viemos da classe baixa, mas a diferença é que eu vivo aqui na Venezuela", disse ele, ironizando as constantes viagens do presidente.
Fraturada, a oposição tem cerca de 12 pré-candidatos à presidência. Especialistas em pesquisas dizem que Rausseo tem poucas chances, mas que ele vem atraindo a atenção da mídia ligada à oposição e é criticado por colunistas simpáticos ao governo.
"Minha campanha vai ser diferente das de todo mundo -- quem quiser levá-la a sério vai levá-la", afirmou o humorista. "Quanto ao resto, veremos em 3 de dezembro [dia da eleição]."
Ele começou a campanha com os mesmos cacoetes de palco que lhe tornaram um dos comediantes mais conhecidos do país. Ainda neste mês, ele pretende criar formalmente um partido chamado "Piedra". Seu slogan, "votar Piedra", soa em espanhol como "jogar pedra", ou seja, atacar agressivamente.
Ironizando o uso de nomes militares nas organizações eleitorais de Chávez, Rausseo prometeu recrutar mulheres para formarem o "Comando Pechuga" ("Comando Peito").
Seu site anuncia essas assessoras eleitorais com a foto de uma moça bronzeada ao lado de um sorridente Rausseo, que faz um gesto como se fosse agarrar o seio dela.
Mas, quando se trata de apresentar propostas, as de El Conde são uma mistura de tiradas humorísticas com promessas-clichê.
Questionado sobre sua posição política -- esquerda ou direita -, o candidato se descreve como "filé mignon de centro".
A repercussão da candidatura dele pode ser um sinal tanto da popularidade dele quanto dos problemas da oposição. Há oito anos, a política venezuelana é dominada por Chávez, que tem o apoio de milhões de pobres graças a seus programas sociais. Críticos o acusam de concentrar poder e fazer reformas que abalaram as instituições democráticas.
Mesmo quem não gosta de Chávez está cada vez mais frustrado com a oposição, responsável por um fracassado golpe de Estado em 2002 e pela convocação de um plebiscito que poderia derrubar o presidente, em 2004, mas acabou fortalecendo-o.
"A candidatura [de Rausseo] tem tido um forte impacto na opinião pública, particularmente na classe média", disse Luis Vicente León, diretor do instituto Datanalisis. "Mas eu diria que esta candidatura não é muito perigosa para Chávez."