Instituições, parlamentares e a imprensa estão imersos em um acirrado debate sobre até que ponto os Estados Unidos devem abdicar das liberdades civis para combater o terrorismo, mas grande parte dos norte-americanos não parece interessada na discussão.
Em Washington, a atenção se volta para a sabatina do general Michael Hayden, indicado para a direção da CIA, no Senado, e para uma reportagem publicada na semana passada, segundo a qual o governo guarda registros telefônicos de milhões de cidadãos.
Mas dificilmente o debate mudará opiniões em um país onde, segundo as pesquisas, mais de metade da população acredita que sacrificar alguns direitos é um preço necessário a pagar pela segurança após os atentados de 11 de setembro de 2001.
"As pessoas olham para isso pelas lentes do 11 de Setembro e entendem que não fomos atacados desde então e que há razões para isso além da sorte", disse Mac Thorwer, editorialista do jornal The Paducah Sun, do Kentucky.
"Acho que por essa razão há bastante apoio àquilo que o presidente está fazendo nessa área, e não muita preocupação com uma ameaça às liberdades civis", afirmou.
Pesquisa da CNN divulgada na quinta-feira mostrou que 54 por cento dos norte-americanos apóiam a compilação de dados telefônicos como forma de o governo localizar terroristas. Dias antes, pesquisa do Washington Post/ABC News mostrou que 51 por cento aprovavam a forma como o governo de George W. Bush protege a privacidade da população.
Outra pesquisa, feita pelo Gallup e divulgada na semana passada pelo USA Today, mostrava que 53 por cento dos norte-americanos acham que o governo restringiu as liberdades civis de forma adequada ou "não o bastante".
Analistas vêem vários fatores por trás desses números, inclusive o fato de que as maiores preocupações da população no momento são a guerra no Iraque, a economia, os empregos e a imigração, ficando as liberdades civis bem abaixo na lista.
Richard Ben-Veniste, membro democrata da comissão que investigou os atentados do 11 de Setembro, disse que a indiferença registrada pelas pesquisas é desencorajadora, mas não surpreendente.
"A não ser que isso afete um indivíduo diretamente, as pessoas não estão tão vigilantes quanto deveriam e talvez não tão educadas quanto deveriam a respeito da importância da nossa privacidade e das liberdades civis constitucionais."
Alguns especialistas acham também que, para muitos norte-americanos, o debate sobre liberdades civis é exagerado e impede o uso de uma arma vital contra o terrorismo.
"Se agitadores das liberdades civis, políticos de palanque e editorialistas que se dizem virtuosos conseguirem o que querem, teremos de abrir mão da nossa mais potente linha de defesa por causa dessas preocupações em grande medida hipotéticas sobre violações de privacidade", escreveu Max Boot, do Conselho de Relações Exteriores, em artigo publicado nesta semana no Los Angeles Times.
Outros analistas acham que as pesquisas refletem uma resignação perante a erosão gradativa das liberdades civis. "Há um ataque à privacidade dos americanos. Tudo o que fazemos na nossa sociedade parece ser monitorado, cada compra que fazemos é coletada por entidades privadas. Acho que as pessoas estão simplesmente acostumadas a isso hoje em dia", disse Lewis Katz, professor de Direito e especialista em privacidade da Universidade Case Western Reserve, em Cleveland.
Embora os norte-americanos como um todo não estejam muito preocupados, os de origem árabe -- que se sentem mais atingidos pelas medidas -- acham que o país precisa perceber que os direitos de todos estão em risco.
"Não se trata só de árabes-americanos. O que as pessoas realmente precisam entender é que isso afeta cada pessoa que vive neste país. As liberdades civis de todos estão em jogo", afirmou Rana Abbas-Chami, subdiretor do Comitê Americano-Árabe Antidiscriminação em Michigan.