Harm El-Sheikh (Egito) - Sob a pressão dos Estados Unidos, os líderes israelense e palestino começaram nesta terça-feira, 14, a negociar um acordo de paz no resort egípcio de Sharm el-Sheikh, mas não houve avanço no processo porque os palestinos disseram que a questão dos assentamentos judaicos na Cisjordânia continua a ser um entrave. As negociações foram sérias e profundas, mas o obstáculo dos assentamentos ainda existe, disse o porta-voz palestino Nabil Abu Rudeina. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, continuarão as negociações na quarta-feira em Jerusalém.
Abbas e Netanyahu tiveram dois encontros nesta terça-feira, o segundo dos quais não estava agendado e aconteceu sob pressão da secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton. Após o primeiro encontro entre os dois líderes, o enviado especial do presidente dos EUA, Barack Obama, para o Oriente Médio, George Mitchell, ofereceu uma avaliação positiva para a imprensa. Mitchell disse que o objetivo do encontro de hoje foi montar uma estrutura a partir da qual as principais questões serão discutidas. Primeiro, as duas partes concordaram em trabalhar para montar a estrutura de um acordo, uma tarefa que está em curso, afirmou.
Mitchell disse que as principais questões para um processo de paz foram discutidas, mas não disse se houve avanço em qualquer um desses temas. Além dos assentamentos judaicos na Cisjordânia, território que os palestinos reivindicam para seu futuro Estado, outras questões sensíveis são o status futuro de Jerusalém e a volta dos milhões de refugiados palestinos. Mitchell foi pressionado para dizer se houve progresso na questão dos assentamentos: Nós continuamos nossos esforços e acreditamos que nos movemos na direção certa, como um todo, ele disse. Mitchell planeja viajar à Síria e ao Líbano nos próximos dias. O objetivo da administração Obama é uma solução mais ampla para o Oriente Médio, que inclua acordos de paz entre Israel e a Síria e entre Israel e o Líbano, além do acordo israelo-palestino. A meta final é criar um Estado palestino soberano ao lado de um Estado de Israel seguro.
Marc Regev, porta-voz de Netanyahu, disse que muito trabalho ainda está pela frente e que os líderes palestino e israelense terão que tomar decisões difíceis. A maneira de chegar a um acordo é trabalharmos juntos nas questões principais, não fugir de qualquer uma delas, disse Regev.
Os palestinos querem que Israel prorrogue a proibição a novas construções noa assentamentos judaicos na Cisjordânia, a qual deverá expirar em 26 de setembro. Eles afirmam que se Israel não fizer isso, as negociações de paz chegarão ao final. Netanyahu, contudo, já sugeriu que pelo menos parte das restrições serão retiradas.
O congelamento das expansões dos assentamentos não é o único obstáculo para os negociadores. Os dois lados discordam sobre o que discutir primeiro: segurança ou fronteiras.
Um assessor graduado de Abbas, Mohammed Ishtayeh, aparentou tomar uma linha-dura na questão das construções nos assentamentos, dizendo aos repórteres que uma extensão israelense ao congelamento das construções não sinalizaria um avanço nas negociações, apenas progresso na construção de confiança.
"O congelamento nas construções nos assentamentos não é um tema nas negociações. Remover assentamentos é um tema, disse Ishtayeh. Já Regev disse que se a expectativa é que apenas Israel mostre flexibilidade, então essa não será uma receita para um processo bem-sucedido.
O grupo palestino Hamas, que governa a Faixa de Gaza, não participa do processo. O porta-voz do Hamas, Ismail Ridwan, descreveu as negociações em curso como um caminho vergonhoso que segundo o grupo não beneficiará os palestinos. Ao contrário, isso servirá à ocupação israelense e dará a ela luz verde para continuar seus crimes. Ahmed Jabari, líder da ala militar do Hamas, ameaçou lançar uma onda de violência para interromper as negociações.
Pressão americana - Antes de se reunir com Netanyahu e Abbas, Hillary teve uma reunião com o presidente egípcio, Hosni Mubarak. O líder do país anfitrião também se encontrou com os dois líderes.
No caminho de Washington para o Egito, Hillary repetiu o pedido do presidente dos EUA, Barack Obama, para que Israel amplie a moratória de dez meses nas construções em assentamentos, que deve expirar dia 26. Ela não descartou, porém, um acordo entre os dois lados que resulte em um congelamento parcial nessas obras.
Os palestinos já advertiram que, se a moratória não for ampliada, o diálogo direto de paz pode ser paralisado completamente. Nenhum dos lados, porém, quer ser o responsável pelo colapso das conversas.
Netanyahu aparentemente quer discutir primeiro nessa terça-feira temas da segurança israelense, e quer ainda que os palestinos reconheçam Israel como um Estado judaico. Já os palestinos querem primeiro definir as fronteiras de um futuro Estado palestino e do status de Jerusalém, além de discutir o retorno dos refugiados palestinos que fugiram ou foram expulsos em 1948 da área onde hoje fica Israel. Um funcionário israelense disse mais cedo a repórteres, pedindo anonimato, que Hillary decidiria a agenda das negociações.
As informações são da Associated Press e da Dow Jones.