Uma equipe de cirurgiões britânicos recebeu nesta quarta-feira a autorização para realizar o primeiro transplante completo de rosto no mundo, que poderá ser feito em alguns meses, informou uma fonte médica.
O comitê de ética do Royal Free Hospital de Londres autorizou a solicitação apresentada pela equipe do professor Peter Butler, que diz estar "encantado" por ter esta oportunidade.
O professor Butler, um especialista em cirurgia reconstrutiva, trabalha no projeto há quase 14 anos neste mesmo hospital do norte de Londres. Em dezembro de 2005, ele havia obtido autorização para efetuar uma pré-seleção de pacientes capazes psicologicamente de suportar semelhante operação.
"Foi uma longa viagem, mas é apenas o começo", afirmou Butler, indicando que a operação poderá ser realizada num período de um ano, embora insistisse que não se trata de uma corrida.
No entanto, médicos da Clínica Cleveland, de Ohio (centro dos EUA), estão também selecionando pacientes que poderão ser submetidos a um transplante facial total, o que quer dizer que britânicos e americanos disputam a liderança de um dos campos mais promissores da medicina.
Até agora, dois pacientes no mundo foram submetidos a um transplante parcial de rosto: Isabelle Dinoire, na França, em novembro de 2005, e Li Guoxing, um camponês chinês de 30 anos, em abril deste ano.
Mas estes foram transplantes parciais. O procedimento do transplante total implicará remover a pele, vasos sanguíneos, gordura subcutânea, nervos e artérias de um doador cerebralmente morto, que serão transplantados para o rosto de uma pessoa com queimaduras e ferimentos severos, que desfiguraram todo seu rosto.
Em alguns casos, as orelhas, nariz e o couro cabeludo também poderão ser tirados do doador e transplantados ao paciente.
Segundo Butler, cuja equipe já pré-selecionou 34 pessoas, a parte mais importante desse processo é a escolha dos pacientes, um dos quais será eleito para se submeter à mudança total de seu rosto, o que significa uma mudança total de sua vida, como foi o caso Dinoire, que teve parte do rosto destruído por um cachorro.
"Agora começa a parte mais importante do processo, que é a seleção de pacientes", explicou Butler, que disse que gostaria que mais pessoas apresentassem seus casos.
Serão escolhidas quatro pessoas, da Grã-Bretanha e Irlanda, com base num critério muito restrito, que leva em conta aspectos psicológicos, indicou Butler.
"Estes pacientes já teriam sido submetidos a umas 50 ou 70 operações reconstrutivas, mas continua afetados pelos ferimentos e queimaduras, como, por exemplo, sem poder fechar a boca ou as pálpebras", explicou.
"Também têm um problema de integração na sociedade, onde todo mundo olha para eles. A única coisa que essa gente quer é se sentir normal".
A operação do transplante facial total, que representará um passo histórico na cirurgia reconstrutiva, será realizada por quatro a cinco cirurgiões.
A equipe será apoiada por um grupo de enfermeiras, anestesista e psicólogos que trabalharão com o paciente a família do doador, acrescentou o médico.
Feito o primeiro transplante, um segundo paciente deverá ser operados cerca de seis meses depois.