O cardeal italiano Tarcisio Bertone, de 71 anos, designado oficialmente nesta quinta-feira por Bento XVI para ser seu secretário de Estado, é, antes de tudo, um pastor extrovertido, enérgico e simpático, com idéias conservadoras.
Nascido em Romano Canavese, perto de Turim, em 1º de dezembro de 1934, Bertone foi ordenado padre salesiano aos 25 anos de idade, em Ivrea, mesma região onde nasceu e se formou. Graduado em teologia pela faculdade salesiana de Turim, Bertone continuou os estudos em Roma, na Pontifícia Universidade Salesiana, onde obteve o doutorado em direito canônico.
"Padre Bertone", como era conhecido, transferiu-se para a Cidade Eterna em 1967, onde dedicou-se ao ensino e foi reitor da Universidade Pontifícia, enquanto assessorava diferentes congregações do Vaticano. O atual arcebispo da cidade de Gênova não tem um perfil diplomático, e sim uma grande experiência pastoral, como o Papa alemão, com o qual trabalhou por sete anos na Congregação para a Doutrina da Fé.
De 1995 a 2002, Bertone foi secretário desse importante órgão da Igreja, famoso por ter sido o ex-Santo Ofício, o Tribunal da Santa Inquisição, responsável por defender a ortodoxia doutrinária católica e tomar polêmicas medidas disciplinares.
Simpático, enérgico e acostumado a ser muito direto, Bertone sabe como a Igreja funciona internamente, um assunto que preocupa o novo Papa, que espera poder cumprir uma série de reformas para torná-la mais ágil.
O cardeal italiano, designado em 2003 por João Paulo II, é um grande admirador do amigo e ex-chefe Joseph Ratzinger, que descreveu em entrevista à revista católica "Famiglia Cristiana" como "um homem bom, que sabe dizer não".
Nomeado arcebispo de Gênova em 2002, conquistou a imprensa por comentar as partidas de futebol do clube daquela cidade para uma TV local, bem como por sua franqueza e senso de humor, combinados a um grande conhecimento teólogico e um rigor dogmático.
Em certa ocasião, enquanto reiterava que a Igreja se opunha à clonagem, comentou, em tom de brincadeira, que uma exceção poderia ser feita no caso da atriz italiana Sofia Loren. Crítico virulento do livro "O Código da Vinci", de Dan Brown, Bertoni também organizou uma campanha nacional para boicotá-lo.
Quinto de uma família humilde de oito filhos, quando criança Bertone queria ser engenheiro, contou sua irmã, mas aos 12 anos ele anunciou que desejava se tornar padre.
Bertone assumirá o cargo no próximo dia 15 de setembro. "Para mim, será como a revolução de Copérnico, porque eu tinha muitos planos para a igreja de Gênova. Mas sou salesiano, sou um homem da Igreja, e estou acostumado a obedecer", comentou.