Os cinco países da Comunidade Andina de Nações (CAN), Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia e Equador, estão enfrentando uma crise diplomática que ameaça o bloco. Hoje, o governo colombiano sugeriu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja mediador da crise. "Interessa tanto ao Brasil quanto à Colômbia. Vamos compartilhar visões, o Brasil tem apoiado a integração sul-americana, que se baseia na aproximação entre a CAN e o Mercosul", declarou a ministra das Relações Exteriores colombiana, Carolina Barco.
Amanhã, Lula se encontra com o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, em Brasília. A crise, a maior desde a criação do bloco em 1969, se intensificou na semana passada, quando o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou que o país estava saindo do bloco em protesto contra o tratado de livre comércio que a Colômbia e o Peru estão negociando com os Estados Unidos. "
Mas hoje, Chávez declarou que pode reconsiderar a saída da Venezuela da CAN se a Colômbia e o Peru reconsiderem o tratado com os Estados Unidos. Ele disse que tomou essa decisão após receber uma carta do presidente da Bolívia, Evo Morales, pedindo que a Venezuela continuasse no bloco. "Sou obrigado a reconsiderar por solidariedade ao companheiro Evo."
O líder boliviano também enviou uma carta para Uribe e para o presidente do Peru, Alejandro Toledo, convocando uma reunião presidencial da CAN. Segundo Chávez, Morales "pediu-lhes que suspendessem qualquer medida rumo aos tratados de livre comércio com os Estados Unidos e com a União Européia".
Morales explicou que o objetivo da reunião ministerial não deve ser "salvar por salvar" a CAN, mas fortalecê-la. "Ela deve ser a base para a Nação Sul-Americana", conclamou. Em La Paz, o presidente da Bolívia disse que "os acordos de livre comércio estão destruindo a CAN". Segundo ele, os presidentes Uribe e Toledo assinaram os acordos "desconhecendo a luta de seus povos".
Morales citou como exemplo o movimento indígena do Equador, que impediu o avanço das negociações com os Estados Unidos. "Uma coisa é o que os presidentes podem fazer, e outra é o interesse econômico da maioria, o presidente Toledo não somente traiu o movimento indígena do Peru, mas de toda América Latina", acusou Morales. "Em nome dos nossos povos, peço que Peru e Colômbia paralisem suas negociações, e que o presidente da Venezuela desista de abandonar a CAN", afirmou.
O Peru reagiu com veemência às declarações de Morales contra Toledo. "O governo do Peru lamenta profundamente e expressa seu enérgico protesto pelas expressões e pelo significado nas declarações do presidente da Bolívia, que carecem de fundamentos e são impróprias para um chefe de Estado", afirmou um comunicado do Ministério das Relações Exteriores do Peru.
A Colômbia reafirmou seu interesse no tratado de livre comércio com os Estados Unidos. "Um país com 43 milhões de habitantes como o nosso, com tanta pobreza e desemprego, não pode ficar parado, negando-se a abrir mercados", declarou hoje o presidente Uribe. "Não temos as bênçãos de petróleo e gás, que os irmãos da Venezuela e Bolívia têm. Produzimos manufaturas e produtos agrícolas e temos de procurar mercados para vendê-los".