Cerca de 400 mil crianças morrem anualmente na China principalmente por falta de atendimento médico, disse hoje um membro de um grupo de assessoria do governo, pedindo um maior investimento no sistema de saúde do país. "A maioria dessas mortes ocorre nas áreas rurais, já que 50% das crianças não recebem qualquer tratamento médico lá", disse Zhu Zonghan, membro da Conferência Consultiva Política do Povo, durante uma reunião que está ocorrendo paralelamente à Assembléia Nacional do Povo (o Parlamento chinês). "Elas simplesmente morrem em casa ou a caminho de hospitais distantes", acrescentou Zhu, referindo-se a crianças de menos de 5 anos.
A denúncia foi feita dois dias após o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, em seu discurso de abertura da sessão anual da Assembléia Nacional do Povo, admitir a ampla disparidade entre as cidades e o campo e dizer que seu governo busca construir "um novo socialismo rural", dando melhores condições de moradia, estudo saúde e seguridade social aos camponeses. Wen prometeu aumentar em 15,3% - mais de US$ 50 bilhões - os gastos com a área rural, onde vivem 900 milhões dos 1,3 bilhão de chineses.
Zhu estimou que as vidas de 240 mil crianças poderiam ser salvas se o governo gastasse US$ 3,36 bilhões extras anuais na área de saúde. Os gastos do governo no setor de saúde corresponderam a 3,4% de suas despesas totais em 2006, mas podem ser reduzidos a apenas 0,1% a 3,5% este ano, disse Zhu.
Wen pediu aos 3 mil delegados da Assembléia que aprovem um aumento de 87% na verba para a assistência médica.
O governo chinês tem enfrentado um grande descontentamento da população com o sistema de saúde do país. A pessoas reclamam sobre tudo, desde os caros medicamentos até hospitais lotados e remédios falsificados.
"Se você tem dinheiro, você vive. Se não tem, é abandonado para morrer", disse Zhu, sobre a disparidade no tratamento médico entre ricos e pobres na China. "Sugiro que o governo aprove uma proporção fixa de investimento no setor de saúde, e esse número deveria chegar a 10% (dos gastos totais) em cinco a dez anos", disse Zhu, ex-presidente do Departamento de Saúde de Pequim.