O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, confirmou nesta sexta-feira, 16, durante encontro com correspondentes internacionais, a compra direta, sem intermediários, de 24 caças supersônicos Sukhoi-30 (Su-30), russos. O valor estimado do negócio é de US$$ 815 milhões, financiados ao longo de 18 anos, segundo um funcionário da Rosoboronexport na América Latina.
Chávez anunciou que os primeiros quatro aviões operacionais serão entregues em novembro. O presidente da Venezuela negou que esteja impondo corrida armamentista na região. Para ele, as aquisições de equipamentos de defesa limitam-se ao armamento mínimo necessário para garantir os interesses estratégicos do país. Em 5 de julho, dia em que a Venezuela comemora os 195 anos da proclamação da independência do país por Simón Bolívar, dois Su-30 voarão durante o desfile comemorativo. Nos dias anteriores, os jatos, que saem da Rússia no dia 27, serão avaliados pela força aérea na base de Maracay.
Ainda nesta sexta, a agência oficial de notícias Novosti divulgou em Moscou detalhes da versão específica do Su-30 a ser entregue à Força Aérea da Venezuela (FAV). Os aviões sairão de fábrica, em Komsomolsky, equipados com o mesmo radar russo - virtualmente imune a sistemas de interferência, capaz de identificar acima de 20 alvos simultaneamente, acompanhar 10 deles priorizando o ataque por grau de ameaça e selecionando a arma mais adequada a cada caso. O canhão de bordo, um GSh 30mm, será municiado com 150 tiros. O Su-30 voa a 2,5 mil km/hora, leva oito toneladas de cargas de ataque e tem autonomia de 3.000 quilômetros.
Crise - A compra dos caças é uma nova etapa da crise, iniciada há cinco meses, entre os governos da Venezuela e dos Estados Unidos. Em outubro de 2005, o Departamento de Estado vetou o fornecimento de peças e componentes necessários para a execução de um contrato de modernização de ao menos 20 supersônicos F-16A, americanos, comprados nos anos 80 e usados pela FAV. O trabalho de revitalização seria executado por empresas de Israel.
Chávez foi rápido na resposta: disse que, na impossibilidade de empregar os F-16A, doaria as aeronaves ao Irã. E que contava com fornecedores alternativos. Referia-se ao acordo de cooperação na área de defesa firmado com a Rússia em 2004, acompanhado de linha de crédito de US$$ 5,5 bilhões. Na mesma época, a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, informou ao governo do Brasil o bloqueio de exportação de 36 aviões militares produzidos pela Embraer, sob alegação de que os modelos envolvidos usavam componentes fabricados nos EUA. A restrição bateu ainda em encomendas de Chávez à Espanha - três corvetas lançadoras de mísseis e dez aviões cargueiros C295.
O primeiro ministro espanhol, José Luis Zapatero, não aceitou a interdição. Manteve o contrato, explicando diretamente a Condoleezza que os navios leves só podem operar em missões de escolta ou patrulha. Zapatero comprometeu-se a remover dos aviões de carga as partes licenciadas nos EUA. Eram 58, foram trocadas 57. A última, uma válvula do sistema hidráulico da porta traseira, é fabricada na Catalunha, sob regime de autorização plena, disse o ministro da Defesa venezuelano, Orlando Maniglia.