Os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Bolívia, Evo Morales, levaram seu discurso de viés socialista para a 4a Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da América Latina, Caribe e União Européia, em meio a críticas devido ao seus estilos agressivos de fazer política.
Recentemente, os dois países deixaram irritados vários governos, do Brasil à Espanha --a Venezuela, ao atirar em uma situação caótica do grupo andino de comércio, e a Bolívia, ao nacionalizar seu setor de petróleo e gás natural e ao acusar empresas estrangeiras de energia de violar as leis do país.
Morales, um ex-plantador de folha de coca que realiza sua primeira viagem presidencial à Europa, dá sinais de apreciar a chance de enfrentar as ex-potências coloniais e o atual vizinho peso pesado, o Brasil, acusando-os de "pilhar" as riquezas bolivianas.
"Tenho certeza de que deve ser uma novidade para os senhores ver um presidente que veio da luta do sindicalismo, da luta por justiça social e da luta pelos direitos dos indígenas", afirmou o dirigente na quinta-feira, antes do começo da cúpula, no dia seguinte, em Viena.
"Tenho certeza de que a questão da nacionalização dos recursos de petróleo e gás é muito mais preocupante para alguns países", afirmou Morales, que subiu ao poder em dezembro com a promessa de usar as riquezas naturais da Bolívia para combater a pobreza.
Diplomatas da UE dizem que não querem entrar em atrito com o país latino-americano, mas que preocupam com o novo rumo adotado por ele.
"Não temos uma relação paternalista com a Bolívia. O que desejamos é encorajar a Bolívia a não fazer coisas que, ao final, acabarão por prejudicar os próprios bolivianos", disse uma autoridade do bloco europeu.
O Brasil reagiu com indignação às acusações de Morales de que a estatal Petrobras havia violado leis bolivianas.
"Estranhamos profundamente o que aconteceu... Se quiser traduzir isso por um termo como indignação não estará longe da verdade", afirmou a repórteres, na noite de quinta-feira, o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim.
Chávez deve participar de um comício ainda na sexta-feira ao lado de uma filha do revolucionário latino-americano Che Guevara.
REAÇÕES PRESIDENCIAIS - Alguns dos dirigentes que chegaram mais cedo para a cúpula mostraram-se preocupados com o fato de a parceria entre a Venezuela e a Bolívia estar se transformando em um novo eixo político da América do Sul.
O presidente do México, Vicente Fox, advertiu que os dois corriam o risco de se isolar de outros países da região que tentam atrair investimentos estrangeiros a fim de alimentar o crescimento econômico, criar empregos e obter o tipo de ganho social ausente da América Latina nas últimas décadas.
O líder do Peru, Alejandro Toledo, lamentou a decisão da Venezuela de abandonar o grupo Comunidade Andina (CAN). A Bolívia afirmou que pode agir da mesma forma, acabando com as esperanças de que a UE e o bloco chegassem a um acordo, em Viena, sobre o início de negociações a respeito do comércio e investimentos.
Na sexta-feira, Morales deve se reunir com o primeiro-ministro da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele também um ex-líder sindical, mas que adotou políticas econômicas mais ortodoxas que as do dirigente boliviano.
Como a Petrobras, a empresa espanhola Repsol é uma grande investidora do setor energético da Bolívia.