Milhares de manifestantes em cidades da Europa e da Ásia se uniram em protestos contra a junta militar de Mianmar, depois de o regime ter reconhecido que prendeu centenas de monges budistas que lideraram a recente onda de protestos no país.
Enquanto os simpatizantes de Taipé (Taiwan) a Londres (Reino Unido) gritavam e agitavam cartazes, os ativistas em Mianmar silenciosamente se recolheram em suas casas para acenderem velas e orarem em vigília por aqueles mortos e presos
na brutal repressão da junta militar contra os manifestantes.
Com esperança de enviar uma mensagem aos generais da junta militar, de que "o mundo ainda está observando", o grupo de direitos humanos Anistia Internacional organizou marchas em mais de duas dezenas de cidades na Ásia, Europa e América do Norte.
Alguns observadores disseram que essas manifestações provavelmente terão efeito mínimo sobre a introspectiva elite militar de Mianmar que, em grande medida, vem ignorando a pressão e opinião mundial em seus 45 anos no poder.
Não houve demonstrações visíveis na maior cidade de Mianmar, Yangon, onde foram proibidas as reuniões, mas alguns na cidade e, em outras partes do país, rezaram em suas casas por sugestão de um monge budista entrevistado pelo serviço de língua Mianmar da Rádio Free Ásia.
Os militares reconheceram que prenderam centenas de monges budistas, que lideraram as manifestações em massa. O partido da líder pró-democracia Aung San Suu Kyi, que cumpre pena de prisão, disse neste sábado que 210 de seus membros foram presos durante a repressão.
Antes do início da manifestação em Londres, o primeiro-ministro britânico Gordon Brown pediu novas sanções da União Européia (UE) contra a junta militar de Mianmar, incluindo a proibição de investimentos futuros no país.
"A fúria do mundo foi manifestada com relação aos excessos que ocorreram contra o povo da Birmânia (como também é conhecido Mianmar)", disse Brown durante um encontro, transmitido pela tevê, com monges budistas reunidos em frente a
sua residência oficial, em Downing St.
A manifestação reuniu cerca de 3 mil pessoas que percorreram o centro de Londres, alguns gritando "Birmânia, Birmânia, Livre". Irene Kahn, da Anistia Internacional, declarou que a "Birmânia não é uma emergência dos direitos humanos de hoje, da semana passada ou do mês passado. É uma emergência dos
direitos humanos que o mundo escolheu esquecer nos últimos 20 anos. Não vamos esquecer desta vez, não vamos deixar o povo da Birmânia cair".
O dia internacional de protesto começou em Melbourne, na Austrália, onde 200 pessoas marcharam atrás de uma faixa que exigia o fim do "banho de sangue". Em Sidney, 200 pessoas, vestindo roupas coloridas, mostraram seu apoio ao que alguns chamavam de "Revolução do Açafrão", referência a cor da vestimenta dos monges budistas.
Em Bruxelas, cerca de 700 pessoas compraram rosas amarelas como um símbolo de paz e carregaram faixas e pinturas de Suu Kyi. Em Paris, poucas centenas de manifestantes se reuniram em frente à embaixada da China para exortar Pequim a
usar sua influência para parar a repressão em Mianmar.
Na Suécia, cerca de 200 pessoas vestidas com roupas vermelhas, que os ativistas pró-democracia em Mianmar adotaram, fizeram uma manifestação silenciosa em uma das principais praças da capital Estocolmo.
Em Taipé, centenas de pessoas desafiaram o tufão Krosa para exigir uma ação da comunidade internacional. Multidões menores se reuniram em Bangkok e Manila. Na maior cidade da Malásia, Kuala Lumpur, cerca de 300 pessoas carregando velas
fizeram uma vigília na noite de sexta-feira (5). Em Nova York, o ator Jim Carrey deu uma entrevista coletiva à imprensa para pedir uma ação do Conselho de Segurança da ONU.