O Peru realiza neste domingo seu segundo turno eleitoral pela presidência, no qual o candidato socialdemocrata Alan García chega como favorito em relação ao nacionalista Ollanta Humala, em uma histórica disputa que decidirá o próximo governante até 2011.
A votação começa às 8h (10h de Brasília) e termina às 16h, em um processo que mobilizará 16,5 milhões de eleitores e será acompanhado por cerca de 90.
000 soldados e policiais.
Os resultados oficiais devem superar os 50% dos votos no domingo e, na terça-feira, chegar a 95%, mas o anúncio final pode levar até uma semana, em caso de reclamações dos candidatos, advertiram neste sábado os organismos eleitorais peruanos.
As propostas de Humala e García se dirigem, basicamente, a um eleitorado pobre em sua maioria, que se considera excluído dos benefícios do modelo econômico liberal que permitiu ao país crescer uma média de 5% ao ano desde 2001.
O Peru tem 27 milhões de habitantes, dos quais 52% são pobres e 19% vivem em extrema pobreza. Diante dessa realidade, os candidatos sabem que o país necessita de urgentes mudanças e reformas sociais, antes que se reacenda o foco de violência que manchou o Peru de sangue durante a atuação da guerrilha Sendero Luminoso (1980-1992).
García promete uma mudança moderada e "responsável", enquanto Humala fala de uma mudança radical e critica o "caduco modelo econômico", propondo a nacionalização dos recursos naturais.
Durante a campanha, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, se tornou a pedra no sapato de Humala, ao defendê-lo, já que este apoio foi explorado por García, a ponto de reduzir a disputa em uma frase: "Chávez ou o Peru".
As eleições serão supervisionadas por uma missão da Organização dos Estados Americanos (OEA), tendo o ex-chanceler canadense Lloyd Axworthy à frente de uma centena de observadores, para garantir a transparência do processo.
Em suas últimas declarações públicas, ambos os candidatos pediram aos peruanos que compareçam às urnas, não votem em branco ou anulem o voto, opção que as pesquisas apontam como preferida de 10% a 15% do eleitorado.
No Peru, o voto é obrigatório e quem não for às urnas terá de pagar uma multa equivalente a 40 dólares.
Ao contrário do primeiro turno, em 9 de abril passado, desta vez, García parte como favorito segundo todas as pesquisas (cuja divulgação está proibida em todo o país há uma semana), que o situam no primeiro lugar há vários dias.
Humala venceu o primeiro turno com 30,6% dos votos, seguido por García, com 24,3%.
O ganhador deste domingo assumirá em 28 de julho próximo, por um período de cinco anos, e substituirá Alejandro Toledo, cujo mandato chega ao fim com índice de popularidade em 30%.
O presidente recém-eleito toma posse no mesmo dia que os membros do novo Congresso, cuja composição definitiva foi divulgada neste sábado, quase dois meses depois das eleições legislativas de 9 de abril.
Nem Humala (43 anos, do Partido União pelo Peru), nem García (57 anos, da Aliança Popular Revolucionária Americana, Apra) terão maioria em um Parlamento de 120 membros, com muito poder devido a seu sistema unicameral.
O partido de Humala obteve 45 cadeiras, enquanto o Apra ficou com 36. Ao todo, sete partidos conseguiram colocar seus representantes em um fragmentado Congresso, o que forçará o ganhador das eleições a buscar apoio de outras forças para construir uma maioria e assegurar a governabilidade.
A Aliança Unidade Nacional (de direita) ficou em terceiro lugar, com 17 congressistas, e a Aliança pelo Futuro, do ex-presidente Alberto Fujimori, somou 13 representantes.
Toledo será o primeiro presidente em mais de três décadas a entregar a seu sucessor um país saneado economicamente.
A economia peruana foi uma das que mais cresceram nos últimos anos na América Latina. Em 2005, o PIB avançou mais de 6%, a inflação ficou em 1,3%, a dívida externa total caiu para cerca de 29 bilhões de dólares, o peso do PIB na dívida pública retrocedeu de 46% para 38% e o déficit fiscal é de 1%.