O general do exército dos EUA Geoffrey Miller, oficial de maior graduação a testemunhar no escândalo da prisão de Abu Ghraib, disse na quarta-feira que nunca sugeriu o uso de cães militares no interrogatório de prisioneiros iraquianos.
Miller foi chamado a depor como testemunha de defesa de um adestrador de cães policiais militares acusado de usar seu animal para abusar de detentos na prisão próxima a Bagdá, um dos muitos oficiais de baixa graduação processados por maus tratos de internos de Abu Ghraib.
Mas seu testemunho pareceu minar a defesa do sargento Santos Cardona, 32 anos, que argumenta ter agido com o consenso de seus superiores hierárquicos. Ele é acusado de negligência e de atacar e ameaçar detentos iraquianos com seu pastor belga.
Miller é um ex-comandante da prisão de Guantánamo, em Cuba, que teria sido enviado pelo presidente George W. Bush a Bagdá em 2003, para melhorar a coleta de informações de prisioneiros em Abu Ghraib.
Em cerca de 40 minutos de depoimento, ele negou ter recomendado o uso de cães militares para intimidar prisioneiros interrogados.
"Nós discutimos o uso de cães apenas para o controle, não para interrogatório", disse Miller.
O coronel Thomas Pappas, então comandante de Abu Ghraibi, disse que conversas com Miller sobre cães ocorreram apenas "em termos gerais".
"Foi apenas uma discussão geral sobre o trabalho dos cães militares, que eles eram uma ferramenta efetiva na baía de Guantánamo porque os árabes temem os cães", disse ele. "Mas não houve nenhuma ordem específica", afirmou Pappas.
Em 2004, Pappas escreveu um memorando em que pedia o fim do uso de cães para intimidar detentos e recomendou que os manejadores dos cães não fossem punidos por abusar de prisioneiros. Cardona e outro sargento, Michael Smith, que foi condenado a 179 dias na prisão por uma acusação similar, teriam formulado uma "jogo" em que eles tentavam assustar prisioneiros a tal ponto que os detentos acabavam urinando e defecando nas calças.
Dez soldados dos EUA já foram condenados por abusos em Abu Ghraib entre o final de 2003 e o início de 2004, meses que sucederam a chegada do general Miller à prisão iraquiana.