O candidato nacionalista Ollanta Humala disse na segunda-feira que, se for eleito presidente do Peru no domingo, não se subordinará aos interesses do presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
Peru e Venezuela retiraram seus respectivos embaixadores depois que Chávez manifestou, em abril, apoio à candidatura de Humala e ameaçou romper relações, caso o vencedor do segundo turno peruano seja o social-democrata Alan García.
García, que na primeira vez em que foi presidente (1985-90) provocou uma grave crise econômica no país, aparece nas pesquisas à frente de Humala, um ex-militar que defende maior participação do Estado na economia.
"Chegando ao poder, vamos defender os interesses nacionais. Não iremos nos subordinar a nenhum país e a nenhum governo", disse Humala em entrevista coletiva no aeroporto de Piura, a 1.038 quilômetros ao norte de Lima.
Chávez no domingo pediu a Deus que Humala seja eleito e chamou García de "irresponsável, demagogo, ladrão, impostor" e candidato "do império norte-americano."
O presidente venezuelano, principal adversário dos EUA na América do Sul, disse também que o atual presidente do Peru, Alejandro Toledo, é "um traidor dos índios" por promover um pacto comercial entre Lima e Washington.
"Pedimos a todos os governos de países irmãos que se abstenham de interferir no processo", disse Humala antes de começar uma visita a vários povoados pobres da região de Piura, reduto de seu rival García.
"Há um problema entre os senhores Toledo, Chávez e García. Ollanta Humala não quer se meter nisso. Eu me dou bem com o senhor Chávez e com qualquer outro presidente", acrescentou.
Na última pesquisa do instituto Apoyo, divulgada no domingo, García tem entre 52 e 55 por cento dos votos, contra 45-48 por cento de Humala.
Segundo analistas, o apoio do esquerdista Chávez não favorece Humala nas pesquisas. Mas alguns peruanos consideram que o respaldo de Chávez permitirá ao nacionalista cumprir algumas das suas promessas, como reduzir em até 30 por cento os preços da gasolina e do gás.
"A Venezuela produz petróleo. De repente, pode ajudar que baixe (o preço) dos combustíveis. Isso nos convém, de modo que o apoio é bem-vindo", disse Edwin Castillo, taxista de 28 anos, que acompanhava Humala de perto. O litro da gasolina no Peru custa cerca de um dólar.
Na Venezuela, quinto maior exportador mundial de petróleo, a gasolina é a mais barata do mundo -- pouco mais de 3 centavos de dólar por litro, ou seja, menos do que a água mineral.
O Peru, que há duas décadas não descobre reservas importantes de petróleo, prepara um plano para modificar sua matriz energética, privilegiando o gás natural.