O título acima foi inspirado numa frase original do presidente Abraham Lincoln, presidente dos Estados Unidos, entre 1861-1865, e ela nos remete à seguinte pergunta: o chamado império americano está ruindo? Sim, pelo menos uma parte importante, o coração financeiro e suas pulsações, representadas pelo sistema de crédito. Regras simples de economia foram desobedecidas quando o crédito passou a ser concedido sem rígidas garantias de pagamento. O que era apenas uma ponta do iceberg arrasta a economia mundial para a pior crise do capitalismo, desde 1929. Desde as primeiras falências de bancos americanos, há 20 dias, a economia real começa a ser atingida com demissões em massa na General Motors e Citigroup, entre outras grandes empresas.
Não por acaso os conservadores americanos são responsáveis pela sua origem e desdobramentos, uma vez que o déficit fiscal americano piorou durante os dois mandatos do texano republicano George W. Bush. Para se ter uma idéia do tamanho do rombo é bom lembrar que o déficit orçamentário do governo federal chegou a US$ 454,81 bilhões, em 30 de setembro, fim do ano fiscal. As receitas do governo federal somaram US$ 2,52 trilhões, enquanto as despesas, US$ 2,98 trilhões, sendo que deste total, US$ 624,1 bilhões representaram gastos militares, conforme dados do Departamento do Tesouro dos EUA. Pecado conhecido: gasta-se mais e ganha-se menos.
Como os americanos foram incompetentes em prever e estancar a crise imobiliária que contaminou seu sistema financeiro e bancário, o Velho Continente também foi atingido. As bolsas européias, asiáticas e latino-americanas também têm registrado quedas recordes e não se vê a luz no fim do túnel. Acreditava-se que a injeção de trilhões de dólares pelos bancos centrais ao redor do mundo poderia restabelecer a ordem econômica e financeira mundial.
Na América Latina, incluindo Brasil e México, a crise já se faz sentir. Grandes grupos econômicos, como Aracruz Celulose, Sadia e Votorantim já anunciaram perdas significativas em suas operações cambiais, devido à forte valorização do dólar face ao real.
Autoridades financeiras mexicanas estimam que receitas procedentes dos EUA cairão até 8%, ou seja, US$ 2,8 bilhões. Apesar da rivalidade entre Venezuela e EUA, os americanos são os principais compradores do petróleo venezuelano, mas com a queda acentuada das cotações desta matéria-prima, que chegou a cerca de US$ 70 o barril, a economia do país de Hugo Chávez também sofrerá. Outra commodity, a soja, também se desvalorizou, afetando as exportações argentinas. Bolívia e Equador serão afetados duplamente: tanto pela redução dos investimentos estrangeiros devido a divergências e quebra de garantias contratuais com empresas do porte da Petrobras e da Odebrecht, como pelas quedas dos preços de suas matérias-primas, como o gás natural.
"As economias latino-americanas precisam de acesso a créditos para crescerem e exportarem. Por isso, elas serão também afetadas devido à restrição de créditos", explica o economista Alfredo Coutino, citado pelo "The New York Times". Podemos respirar ainda com otimismo porque um dos nossos principais parceiros é a China. Enquanto seu fantástico crescimento da ordem de 12% não se abalar, vamos faturar com nossas exportações. Finalmente, outros fatores são cruciais para a normalização da economia mundial: liderança e confiança.
Às vésperas das eleições presidenciais americanas de 4 de novembro, o candidato democrata Barack Obama é, sem dúvida nenhuma, o favorito contra o "herói americano" republicano John McCain, cujas idéias conservadoras foram ainda mais reforçadas pela escolha de uma vice retrógrada, Sarah Palin, governadora do Alasca, conhecida por ser contra o aborto e a favor das armas.
Enquanto Obama abre frente nas pesquisas de opinião em mais de 14%, apesar dos ataques de seu rival insinuando ligações do democrata com terroristas e inexperiência em política externa, o mundo se desmorona à espera de um líder capaz de redirecionar a maior potência mundial para um caminho de mais cooperação internacional, menos gastos militares e mais rigor na fiscalização do seu sistema financeiro e bancário. Aparentemente, nenhum dos dois candidatos tem este perfil e defendem sempre, com menor ou maior grau, a tese da beligerância para atingir seus fins.
Pelo menos, em 1929, o presidente Franklin Roosevelt, teve lucidez e preparo para lançar o New Deal ("Novo Pacto") e recuperar seu país da Grande Depressão. A boa notícia é que desde esta época não se assiste a tal tsunami.
Ranulfo Bocayuva - Jornalista e diretor-executivo do Grupo A TARDE. E-mail: rbocayuva@grupoatarde.com.br