Os líderes do golpe militar na Tailândia ampliaram hoje o controle sobre o país. A junta que comanda o país desde terça-feira ampliou o controle à imprensa, atribuiu-se o direito de legislar, proibiu atividades políticas e prendeu ou afastou pessoas próximas ao primeiro-ministro deposto, Thaksin Shinawatra. Apesar das medidas de consolidação do golpe, os militares prometem devolver o governo tailandês "ao povo" em duas semanas.
Shinawatra - que estava em Nova York para a Assembléia Geral das Nações Unidas quando o golpe ocorreu - pediu hoje, em um comunicado, que se realizem eleições rapidamente e se respeitem os princípios da democracia "pelo bem de nosso rei e de nosso país". Segundo alguns líderes militares, Shinawatra pode voltar ao país. O chefe da polícia, porém, deixou claro que ele responderá a processos. No poder desde 2001, o primeiro-ministro afastado é acusado de corrupção e criticado pela forma como lida com a rebelião muçulmana no sul tailandês.
Os Estados Unidos anunciaram hoje que estão revisando os acordos que mantém com a Tailândia, após o golpe. Segundo o Departamento de Estado, os EUA enviariam US$ 14 milhões de ajuda direta ao país neste ano. Desse montante, US$ 4 milhões seriam para a ajuda militar. O porta-voz do departamento, Tom Casey, disse que parte dessa ajuda deve ser congelada.
Apesar do golpe, o dia de hoje foi de relativa calma na Tailândia. O número de tropas e tanques nas ruas de Bangcoc diminuiu e o país voltou à rotina. Ontem foi decretado feriado nacional.
O Conselho Administrativo para a Reforma - órgão criado pelos militares para comandar o país - comandado pelo general Sonthi Boonyaklin, designado primeiro-ministro interino - informou hoje em um comunicado que "os partidos políticos atuais não serão dissolvidos, mas não podem fazer nenhuma atividade até novas instruções". Além disso, está proibida a criação de novos partidos no país. Seguem proibidas as reuniões com mais de cinco pessoas.
Os golpistas destituíram o diretor de serviços de inteligência e o subchefe da polícia nacional, além de outros dois altos funcionários. Além disso, dois ex-ministros próximos a Shinawatra foram interrogados. Hoje, o jornal tailandês The Nation reproduziu uma lista com centenas de nomes de políticos e empresários que estariam sujeitos a investigações.
A imprensa também foi alvo do cerco dos militares. Donos de meios de comunicação foram chamados para uma reunião com líderes da junta militar. Durante o encontro, foi informado que a mídia tailandesa estava proibida de disseminar notícias e comentários que, na opinião dos militares, possam ser uma ameaça para a segurança nacional e a monarquia. O ministério de Informação divulgou nota, exigindo o cumprimento da ordem para "restringir, frear, controlar e destruir a informação que poderia afetar a monarquia constitucional".
Não será permitida também a divulgação de material que "infrinja a reforma democrática" na Tailândia. O conselho que comanda agora o país prometeu na quarta-feira devolver o poder "ao povo" em duas semanas e anunciou eleições gerais para outubro de 2007.
O rei do país, Bhumibol Adulyadej, seguiu hoje sem comentar publicamente a situação política do país. Foi divulgada uma imagem, porém, em que ele se encontra, no dia do golpe, com os líderes da rebelião. É improvável, segundo analistas, que qualquer golpe na Tailândia tenha sucesso sem o apoio, pelo menos tácito, do carismático rei.
A aliança anti-Thaksin - reunião de partidos e setores do país que pediam a queda do primeiro-ministro - pediu hoje que se processe Shinawatra e seus aliados e familiares suspeitos de envolvimento em casos de corrupção. Para Sondhi Limthongkul, um dos líderes do grupo, "o golpe foi bem-vindo". Além disso, Limthongkul pediu reformas políticas no país e o congelamento dos bens de Shinawatra e seus aliados no país.