Uma convocação emergencial de reforço à tropa brasileira no Haiti levou 30 militares da Bahia e de Sergipe (6ª Região Militar) a viajar de ônibus, na madrugada desta quarta-feira, 3, para Recife, onde encontrarão com outros 200 colegas de farda. O grupo segue para o Rio de Janeiro na sexta-feira, e lá se juntará ao restante dos militares convocados para a missão de paz. Até o dia 13, eles embarcam para Porto Príncipe.
Ao todo, serão mil homens a mais para reforçar o contingente de 1.300 que está naquele país, desde dois dias antes do forte terremoto que atingiu o Haiti, no mês passado. Dos 30 militares da 6ª RM, 16 são baianos, sendo sete de Salvador e nove de Feira de Santana. Os outros 14 são de Aracaju (SE). A despedida da tropa foi marcada, ontem à tarde, por uma solenidade no 19º Batalhão de Caçadores (Cabula), tendo a presença do comandante regional, general João Francisco Ferreira.
Os militares ficarão lá, a princípio, por um período de seis meses, prazo tradicional estipulado para o rodízio de missionários. O perfil da tropa regional que está indo agora é de homens entre 23 e 35 anos, todos com experiência anterior no Haiti e mais de um ano de serviço. Além dos treinamentos anteriores, o grupo recebe novo acompanhamento, antes, durante e depois da viagem.
No Rio de Janeiro, serão aplicados os derradeiros testes e avaliações antes do embarque. Em Porto Príncipe, os militares terão direito a acompanhamento psicológico, além de atendimentos médicos e odontológico.
Segurança - No Haiti, as operações militares serão realizadas em torno da segurança de pontos sensíveis, acompanhamento de comboios e autoridades em visita, apoio nas questões sanitárias e de saúde, além de suporte humanitário em ações de paz. “Em outras ocasiões, a gente se preocupava muito em manter o ambiente estável, mas agora basicamente vamos promover a segurança para ações cívicas e sociais“, afirma o capitão Rafael Silva Dutra, que retorna agora, depois de três anos no Brasil.
O tenente-coronel Jean, que ficou entre 2008 e 2009 no Haiti, mas não integrará a missão desta vez, conta que a violência generalizada por rixa de gangues era o que mais chocava, no início. Porém, ao fim do período da estadia, a situação local já era bem mais estável e controlada. “Digo que 90% de tudo que foi feito pelas forças de paz entre 2004 e 2009 foi abaixo“, lamenta.
Segundo ele, o trabalho foi comprometido e os problemas potencializados, desde que o terremoto destruiu boa parte da capital do País, que reúne um terço de toda população haitiana. “Agora começa uma nova fase de carência“, diz, dando o exemplo da dificuldade de alimentação e deslocamentos internos. O cabo Marcelo Fortuna afirma ter gostado da experiência que viveu no Haiti, em 2006.
“Foi um aprendizado de vida para mim. A gente volta com o pensamento diferente, mais simples, mais sensível. Fico feliz de poder ajudar a levantar o astral aquele povo sofrido, que é nosso irmão“, ressalta.
Família - Para retornar agora, Fortuna conta ter recebido bastante apoio da família. “Claro que eles ficam naquela preocupação, mas sabem da importância dessa missão“, diz. Do casal de filhos de 15 e 12 anos, ele lembra ter recebido um abraço anteontem. “Choraram um pouco, mas ficam felizes ao mesmo tempo, porque sabem que estou indo porque gosto do que faço“.
Quem também embarcou ontem é o sargento Moisés Gomes dos Santos, 33 anos e 15 de serviço militar. Ele esteve no Haiti em 2005 e agora retorna deixando a esposa grávida. O filho está previsto para nascer no final de junho, período em que ele ainda estará fora, mas isso não parece ser um problema. “Já estou acostumado. Nossa vida militar é essa. Meu filho, com certeza, vai ter orgulho do pai dele“, relativiza, o sargento, acrescentando que a esposa também está tranquila, recebendo todo o apoio familiar necessário.
“A falta em casa sempre vai existir, mas a gente tenta amenizar com o suporte dado às famílias pelo Exército e a comunicação por telefone ou internet, quando possível“, diz o capitão Dutra. Ele conta que lá a tropa ficará em segurança, numa estrutura que está sendo montada, à semelhança da base brasileira já existente (cuja ocupação é limitada), composta por casas pré-moldadas de plástico, refeitório e enfermaria.