"Pressentíamos que haveria destruições, mas é o Armagedon. Nenhuma outra palavra pode descrever o indescritível", afirma em um inglês perfeito Abbas Saadik, ao reencontrar a casa de sua família em Khiam, a 100 km a sudeste de Beirute.
Este jovem engenheiro de informática, que vive nos Emirados Árabes, se sentou, junto com 23 de seus familiares, sobre cobertores e papelões, sem saber exatamente por onde começar.
As janelas do imóvel de três andares foram quebradas, a fachada está cheia de rachaduras, os muros, cobertos de buracos ou queimados e, por dentro, a desordem é total.
Já sua vizinha Nadia Abou Ghaïda, de 33 anos, descobriu que durante sua ausência o último andar de sua casa foi arrancado. "Perdi um andar, não preciso mais de escada", disse, com humor.
Embora o quadro seja de calamidade, ambas as famílias poderão reconstruir suas casas. Este não é o caso de Karamallah Abdallah, de 42 anos.
O telhado foi arrancado e, agora, forma uma espécie de guarda-vento que esconde sua antiga casa de três andares, que parece um mil-folhas.
"Quem chegou mais cedo esta manhã já tinha prevenido minha mãe, mas espero que ela não tenha entendido", comentou.
"É insano. Não acho que o povo israelense se dê conta dos crimes de seu governo. São seres humanos e nós também", disse Abdallah, de volta a sua terra natal após mais de 20 anos na Dinamarca, onde se casou com uma dentista.
Reduto do Hezbollah, a cidade que pende sobre a cidade israelense de Metulla foi, literalmente, arrasada pelas bombas do Estado hebreu. Quase todas as casas da região tiveram suas paredes perfuradas ou parcialmente destruídas. Blocos de concreto e fios de alta tensão estão espalhados pelas ruas.
O antigo presídio de Khiam, onde ficaram detidos os prisioneiros do Exército do Sul do Líbano, virou um campo de batalha.
Não há água, luz ou telefone.
O diretor de Energia Elétrica do Líbano para esta região, Zuhair Mehdi, avalia os danos. "Serão necessários cerca de 50 técnicos, pelo menos 100 milhões de dólares e um mês de reparos para que Khiam tenha luz", afirmou.
Hajj Abbas, chefe do Hezbollah na cidade, parece tranqüilo agora. "É verdade que nós ganhamos e que o combate foi duro", resumiu, sem se estender.
Um outro líder do grupo, Abu Mujahdine, está convencido de que seu movimento ajudará financeiramente na tarefa de reconstruir a cidade. "Seyyed Hassan Nasrallah (o chefe do Hezbollah) disse isso e ele tem uma única palavra", garantiu.