O ex-presidente do Peru Valentín Paniagua morreu hoje em uma clínica de Lima, aos 69 anos. A morte de Paniagua, que governou o país entre novembro 2000 e julho 2001, foi atribuída a complicações cardíacas, segundo o chefe do Conselho de Ministros, Jorge del Castillo. Um comunicado da clínica limenha San Felipe, na qual Paniagua ficou internado por 53 dias, afirma que o ex-presidente faleceu na manhã de hoje. A clínica não informou a causa da morte.
Paniagua foi operado de urgência em 23 de agosto devido a uma alteração cardíaca e desde então lutava para se manter com vida. Era considerado um político de longa e impecável trajetória, cujas qualidades morais e sensibilidade o converteram em um dos personagens mais respeitados do país.
De baixa estatura, aparência bonachona e personalidade aprazível, Paniagua admitiu certa vez que nunca havia sonhado em se converter em chefe de Estado. Mas em novembro de 2000 a oportunidade lhe bateu à porta. Naquele ano, o então presidente Alberto Fujimori abandonou o país fugindo de um escândalo de corrupção e o vice-presidente renunciou logo em seguida. Em sua condição de presidente do Congresso, Paniagua foi alçado à presidência da República.
Uma vez empossado, coube-lhe a difícil tarefa de administrar o país até a realização de novas eleições e, ao mesmo tempo, desbaratar a rede de corrupção tecida pelo ex-assessor de inteligência de Fujimori, Vladimiro Montesinos, que foi capturado na Venezuela em junho de 2001 e colocado em uma prisão peruana.
Sua breve gestão de oito meses, durante a qual manteve um perfil discreto, se caracterizou pela transparência e permitiu uma tranqüila transição democrática, que culminou com a vitória nas eleições presidenciais de Alejandro Toledo. Três meses antes de deixar a presidência, Paniagua contava com uma popularidade de 67%. "Paniagua teve um papel fundamental na recuperação democrática do país", afirmou Del Castillo.
Paniagua concorreu à presidência neste ano, aparentemente cedendo às pressões de seus partidários. No pleito de 9 de abril, obteve apenas 5,7% dos votos válidos. Nascido em Cusco, em 23 de dezembro de 1936, Paniagua, filho de um peruano nascido na Bolívia, estudou direito e se especializou em Direito Constitucional. Casou-se com Nilda Jara, com quem teve quatro filhos.
Em 1963, com 26 anos, foi eleito deputado por Cusco e posteriormente foi nomeado ministro da Justiça no primeiro governo de Fernando Belaunde (1963-1968).
Após o golpe de Estado do general Juan Velasco Alvarado em 1968, Paniagua se converteu em um ardoroso defensor da democracia.