Sobreviventes dos ataques a bomba em Mumbai lutavam pela vida em hospitais lotados da cidade na quarta-feira, enquanto outras milhões de pessoas lotavam trens e ônibus para ir ao trabalho no centro financeiro do país.
Pelo menos 183 pessoas morreram nos sete ataques a bomba quase simultâneos no sistema ferroviário de Mumbai na terça-feira. No dia seguinte, investigadores procuravam no meio dos vagões pistas sobre os responsáveis pelas explosões coordenadas na cidade de 17 milhões de pessoas. A suspeita recai sobre militantes com base no Paquistão que combatem o domínio indiano na Caxemira.
Os ataques de terça-feira, em vagões de primeira classe e em estações de trem, parecem ter sido direcionados ao centro de sucesso econômico da Índia, mas horas depois os moradores da cidade já haviam voltado ao trabalho e o mercado de ações mantinha-se estável.
"Dá um pouco de medo, mas não tempos opção, a não ser voltar ao trabalho", disse Amita Rane, de 24 anos.
Quase 700 pessoas ficaram feridas nas explosões, ocorridas em um espaço de 11 minutos.
Foi o número mais alto de mortos desde as bombas que mataram mais de 250 pessoas em Mumbai (Bombaim) em 1993. Os ataques também relembram as explosões em trens de Madri e no sistema de transporte de Londres nos últimos dois anos.
"A meu ver, os ataques em Mumbai podem ter sido inspirados pelos ataques em Londres e Madri", disse Peter Lehr, no Centro de Estudos do Terrorismo e da Violência Política na Universidade St. Andrews, da Grã-Bretanha, ao jornal Times of India.
"É uma tentativa para instilar o medo e o terror nas mentes das pessoas e provocar uma nova onda de violência entre hindus e muçulmanos. Mas nisso eles falharam miseravelmente".
Foram enviados mais policiais a estações de trens, parques, mercados e instituições religiosas em toda a Índia para evitar novos ataques. Também foram armados postos de controles nas ruas principais das maiores cidades.
As explosões aconteceram horas depois de uma série de ataques com granadas contra turistas em Srinagar, capital da Caxemira indiana, que mataram oito pessoas.
A polícia da Caxemira culpou o grupo militante Lashkar-e-Taiba, que segundo autoridades tem apoio do Paquistão e que também foi responsável pelas explosões em mercados lotados de Nova Délhi, que em outubro mataram mais de 60 pessoas.
Segundo fontes de segurança não identificadas citadas por jornais, O Lashkar é o principal suspeito das explosões em Mumbai.
O Paquistão, que nega as acusações indianas de apoio tácito aos militantes, condenou a ação em Mumbai, que chamou de "ataque terrorista".
O ministro das Relações Exteriores júnior, Anand Sharma, disse que o objetivo das explosões foi destruir o processo de paz entre os rivais nucleares, mas que Nova Délhi continua comprometida em melhorar o relacionamento com Islamabad.
SOLIDARIEDADE - Mumbai é uma metrópole de contrastes, com luxuosos prédios de escritórios e de apartamentos ao lado de favelas. Tem também a chamada Bollywood, a maior indústria de cinema do mundo, além de atrair milhões de pobres das áreas rurais.
Mas apesar de serem conhecidos pela sisudez, os moradores estão demonstrando solidariedade, oferecendo caronas, distribuindo água e biscoitos, e levando mortos e feridos para hospitais.
"Estamos acostumados a crises aqui", disse Makaran Bhopatkar, de 35 anos. "A cidade sobrevive".
Muçulmanos que vivem em áreas perto das explosões ajudaram a levar hindus feridos para hospitais e deram chá para os parentes.
Durante a noite, parentes e amigos lotaram hospitais para identificar corpos, vários deles muito mutilados e queimados.
As autoridades colocaram mais ônibus nas rotas servidas pelos trens, que ainda não voltaram a funcionar.
A Bolsa de Valores ficou estável durante a manhã de quarta-feira, mas os títulos subiram para os níveis mais altos desde dezembro de 2001. A rúpia indiana caiu em relação ao dólar, mas analistas não esperam um impacto duradouro.
"As bombas não alteram nossa visão fundamental da economia indiana", disse Rajeev Malik, analista do J.P. Morgan. A economia da Índia cresceu em média oito por cento nos últimos três anos.