O presidente do Paquistão, Pervez Musharraf, dois dias após decretar estado de emergência no país, prometeu deixar a farda e realizar as eleições na data prevista. Anteriormente, o governo havia cogitado um possível adiamento do pleito, além de ter destituído o chefe da Suprema Corte. A polícia paquistanesa enfrentou hoje com bombas de gás lacrimogêneo e golpes de cassetetes milhares de advogados que protestavam contra a decisão de Musharraf. Mais de 200 pessoas foram presas e outras 40 ficaram feridas em várias partes do país.
Grupos de oposição informaram que mais de 3,5 mil pessoas foram detidas desde sábado, e acreditam, assim como a maioria dos analistas e meios de comunicação paquistaneses, que Musharraf, que governa o Paquistão desde o golpe de Estado de 1999, está tentando se manter no poder. No entanto, a Suprema Corte deve se pronunciar nos próximos dias sobre a validade de sua reeleição em 6 de outubro deste ano, por voto indireto. Segundo a Constituição, Musharraf não poderia ter se candidatado sendo chefe do Exército.
Em resposta às crescentes pressões e críticas internacionais, Musharraf afirmou hoje que mantém seu compromisso de deixar o cargo de chefe do Exército para se tornar um presidente civil e de realizar as eleições parlamentares em janeiro, como previsto. Ele não estabeleceu, no entanto, uma data para a votação, para antes "resolver algumas questões legais". "Estou decidido a executar a terceira etapa da transição e deixar minha farda, assim que sejam corrigidos os pilares na Justiça, no Executivo e no Parlamento", disse Musharraf a diplomatas estrangeiros, em declarações transmitidas pela TV estatal.
Antes das eleições, Musharraf prometeu que, se reeleito, deixaria a farda e assumiria como um presidente civil no dia 15. Ainda hoje, o governo paquistanês desmentiu os rumores que circulavam no país que informavam que o subchefe das Forças Armadas se havia rebelado e colocado Musharraf sob prisão domiciliar. "Não há nenhuma verdade nisso. Ele está em Aiwan-e-Sadr (o palácio presidencial)", disse um porta-voz do governo. O presidente norte-americano, George W. Bush, que considera Musharraf aliado em sua luta contra a Al-Qaeda e o Taleban, pediu hoje o retorno do poder civil no país o quanto antes e a libertação das centenas de pessoas presas.
Pressão InternacionalO secretário norte-americano de Defesa, Robert Gates, disse hoje durante visita à China que ele e a secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice, sugeriram que os programas de assistência ao Paquistão sejam revistos, sem, no entanto, ameaçar os bilhões em ajuda que os EUA fornecem ao país para os esforços contra o terrorismo. Condoleezza disse hoje em Ramallah, na Cisjordânia, que o Paquistão deve voltar ao caminho constitucional e realizar eleições livres, e o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Tom Casey, indicou que as relações entre os dois países podem não ser mais as mesmas a menos que Musharraf reverta sua decisão de instaurar o estado de emergência no Paquistão.
O governo holandês congelou hoje milhões de euros em ajuda ao Paquistão e outros países ocidentais começaram a revisar seus programas de ajuda em resposta à decisão do presidente paquistanês de impor o estado de exceção. No entanto, a Grã-Bretanha disse hoje que não está considerando cortar sua ajuda ao Paquistão. O Departamento de Desenvolvimento Internacional da Grã-Bretanha deve dar US$ 493 milhões em ajuda ao Paquistão nos próximos três anos.