Um muçulmano alemão diz que seus vizinhos desconfiam que ele esteja produzindo armas no interior da mesquita que freqüenta. Uma islâmica austríaca reclama que alguns donos de cachorro atiçam ameaçadoramente seus animais quando passam por ela na calçada. Tais atos de "islamofobia" estão em alta na Europa, onde muitos muçulmanos dizem ser ameaçados ou mal compreendidos, segundo um estudo do Centro Europeu de Monitoramento de Racismo e Xenofobia divulgado hoje.
Segundo o documento, os muçulmanos sofrem freqüentemente com diversas formas de preconceito, desde agressões físicas a discriminação no trabalho e em outros lugares. Com base em Viena, o Centro Europeu de Monitoramento de Racismo e Xenofobia colhe e analisa dados sobre preconceito étnico e religioso nos 25 países da União Européia (UE). A entidade recomenda aos líderes europeus que fortaleçam as políticas de integração e sugere aos muçulmanos que tentem "se integrar mais ativamente à vida pública" para reverter percepções negativas da sociedade.
Respeito"A palavra-chave é respeito", disse Beate Winkler, diretora do Centro Europeu de Monitoramento de Racismo e Xenofobia. "As pessoas têm a necessidade de se sentir respeitadas e incluídas. Precisamos reforçar as coisas em comum que nós temos", prosseguiu. Desde os atentados de 11 de setembro de 2001 contra os Estados Unidos, grande parte dos cerca de 13 milhões de muçulmanos da Europa diz se sentir "em constante suspeita de terrorismo", constatou Winkler.
O relatório de 117 páginas do Centro Europeu de Monitoramento de Racismo e Xenofobia destaca a urgência de se combater a tensão religiosa na Europa. Na Turquia, no início do mês, o papa Bento XVI apelou por um maior entendimento entre cristãos e muçulmanos. Meses antes, o pontífice provocou a fúria dos islâmicos ao citar um imperador bizantino que vinculava os ensinamentos do profeta Maomé à violência.
Na semana passada, o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Tony Blair, qualificou a tolerância como um dos "valores essenciais" de seu país e denunciou os "disseminadores do ódio, independentemente de raça, religião ou credo".
Apesar de o Centro Europeu de Monitoramento de Racismo e Xenofobia admitir que os atos de "islamofobia" registrados estejam provavelmente bem abaixo da realidade, o relatório compila centenas de casos de violência e ameaças contra muçulmanos na UE desde 2004. Os incidentes vão desde atos de vandalismo contra mesquitas e centros islâmicos a assédio contra mulheres em trajes tradicionais e agressões em grupo contra muçulmanos.