O Fórum Social Mundial (FSM) começou hoje em Nairóbi, com a presença de milhares de pessoas que proclamaram palavras de ordem contra o imperialismo e lembraram músicas de Bob Marley.
O primeiro dia do fórum começou com uma marcha popular da comunidade de Kibera, uma das maiores da África, até o parque Uhuru, onde aconteceu a cerimônia de inauguração.
"Venho de Kibera, não tenho trabalho, apenas pequenos empregos e luto a cada dia para sustentar meus filhos", disse Cristina Wanyala, viúva de 55 anos, mãe de nove filhos e que participou da marcha.
"Quero que as coisas mudem, e que mudem para melhor", acrescentou.
No parque Uhuru, acrobacias, danças africanas e shows de vários músicos de diferentes países da África acompanharam as mensagens de boas-vindas aos representantes de várias regiões do mundo.
Enquanto os presentes cantavam a famosa música de Bob Marley "Get up, stand up", uma representante dominicana, membro da organização Via Campesina, enviou aos presentes "uma grande saudação revolucionária".
"Somos camponeses, agricultores, mulheres, indígenas da América Latina e nos unimos com a África na esperança. Somos contra os que se apoderaram de nossa riqueza e que implantaram um modelo neoliberal que privatiza nossa terra e nossa água", afirmou.
"Pedimos paz e justiça social para todo o mundo", disse um ativista italiano que falou em nome dos participantes da Europa.
"Como europeus, temos muita responsabilidade pela situação atual.
Sinto o peso de nossa responsabilidade histórica e peço desculpas pelo que nossos antecessores fizeram, e pelos que nossos atuais Governos fazem", acrescentou.
O diretor da Cooperação Internacional da organização Intermón-Oxfam, Fran Equiza, disse esperar que do Fórum "saiam propostas de melhorias e alternativas, e que contribua para dar visibilidade à África positivamente".
Kivubiro Tabawebbula, artista de 55 anos e natural de Uganda, observava o espetáculo com um sorriso no rosto.
"Lembra as concentrações dos anos 70 nos Estados Unidos e no Canadá. Vivi dez anos lá e participei ativamente das manifestações a favor dos direitos civis e contra o apartheid", disse.
Quem tomou a palavra durante mais de meia hora foi o ex-presidente da Zâmbia Kenneth Kaunda, que lembrou "os enormes desafios que a humanidade enfrenta, como a pobreza, a aids, os conflitos e a discriminação por sexo, raça, etnia ou situação econômica".
"Mas a história dos africanos passa pelo comércio de escravos, o colonialismo e a luta contra o apartheid. Lutamos contra a exploração, o que mostra que é possível superar a injustiça", acrescentou Kaunda.
Com o lema "Outro mundo é possível", o FSM é celebrado desde 2001 coincidindo com o Fórum Econômico Mundial da cidade suíça de Davos.
Espera-se que mais de cem mil pessoas compareçam à reunião em Nairobi.
Neste domingo, terão início os quatro dias de debates, mesas-redondas e exposições, que abordarão, entre outras questões, temas como aids, paz e conflitos, juventude, situação das mulheres, imigrações e diáspora, dívida externa, reforma agrária e privatização dos bens comuns.
Serão mais de 600 atividades diárias organizadas pelos movimentos participantes durante os dias de debates, por isso, a qualquer hora do dia, o visitante poderá escolher entre 200 atos que estarão acontecendo simultaneamente.