Em um momento de frágil tranqüilidade, após a violência dos últimos dias, os habitantes da província boliviana de O"Connor ratificaram hoje a ameaça de ocupar um campo de gás operado pela Repsol YPF, cuja propriedade disputam com a vizinha Grand Chaco.
Domingo Moreno, dirigente cívico dos habitantes de O"Connor, explicou que a população está "atenta e ansiosa" para ocupar a jazida, algo que o líder assegurou que acontecerá "em breve", apesar de não dar mais detalhes a respeito.
O"Connor e Grand Chaco disputam a jurisdição sobre o cantão de Chimeo - onde fica o campo "Margarita"-, rico em gás e controlado pela hispano-argentina Repsol YPF. A província vencedora obterá lucros com a exportação do hidrocarboneto.
O porta-voz da Presidência boliviano, Alex Contreras, confirmou hoje que o Governo deslocou agentes policiais e militares para guardar tanto "Margarita", como a área de Villamontes, onde está localizado o campo "San Antonio", administrado pela Petrobrás.
O homem que morreu na terça-feira durante os confrontos na região foi enterrado hoje, em Villamontes.
Segundo relatório do Governo, além de fazer uma vítima, os choques em Villamontes deixaram 24 feridos - 20 civis e quatro militares. Alguns foram baleados.
Um dos feridos permanece em estado grave devido a uma perfuração no pulmão, informou o presidente do Comitê Cívico de Yacuiba, Gualberto Durán.
Ontem, centenas de pessoas abordaram cerca de 50 policiais que passavam por Yacuiba, tomaram suas armas e mantiveram os oficiais como reféns em um prédio do municipal.
Após ser libertado hoje, um dos retidos, coronel Jaime Reyes, disse que os policiais passaram várias horas trancados e tomando somente "água e coca". Eles foram escoltados até o aeroporto para facilitar o retorno a La Paz, informou Durán.
Este não foi o único incidente registrado ontem em Yacuiba. A estação Pocitos da empresa Transredes, subsidiária da anglo-holandesa Shell e da britânica Ashmore, foi saqueada pelos habitantes da região.
Fontes jornalísticas disseram que os manifestantes queimaram vários veículos, estacionados próximo das instalações da empresa, e depredaram o local.
O Governo convocou hoje os dirigentes das províncias envolvidas no conflito para conversar amanhã, em La Paz, em reunião da qual possivelmente participará o vice-presidente boliviano, Álvaro García Linera.
Apesar das acusações do Governo, Mario Cossío, governador do departamento (estado) de Tarija, ao qual pertencem as regiões em disputa, confirmou presença no encontro. O representante é acusado de ser "negligente" na disputa e de "confabular" com o protesto para prejudicar a nacionalização petrolífera.
Os representantes de O"Connor também irão à La Paz para dialogar e "ajudar a pacificar o país", afirmou o dirigente cívico Domingo Moreno, embora tenha acrescentado que não tem "muitas expectativas" sobre a reunião.
Já os representantes de Grand Chaco recusaram-se a viajar até a capital La Paz, porque consideram que o conflito deve ser resolvido no local onde começou.
O Governo ainda está verificando se, durante a ocupação da estação de Transredes, o fornecimento de gás à Argentina chegou a ser interrompido por algumas horas.
O porta-voz presidencial reconheceu que o fechamento de válvulas na região é "parcial", mas afirmou que está afetando apenas o fornecimento para a cidade de Tarija.
No entanto, a Superintendência de Hidrocarbonetos disse que o abastecimento de gás natural para Tarija, Brasil e Argentina "continua normal".