A Organização Mundial da Saúde (OMS) quer dar aos médicos e enfermeiros mais instrumentos para a detecção do vírus da Aids, já que apenas 10% de seus portadores no mundo sabem que estão infectados, disse o responsável pela Aids na OMS, Kevin De Cock.
"Apenas 10% das pessoas que vivem com o HIV no mundo sabem que são soropositivas, é aterrador", sublinhou De Cock numa entrevista à AFP, à margem da conferência internacional sobre a Aids em Toronto (Canadá).
"Devemos reforçar o diagnóstico voluntário", mas "também devemos aumentar maciçamente a detecção e o acompanhamento iniciado pelos profissionais da saúde", estimou o diretor do departamento HIV/Aids na OMS.
"A OMS não pode aceitar que pessoas atendidas por profissionais da saúde não recebam um eventual diagnóstico de soropositividade", acrescentou, lembrando que a assembléia-geral das Nações Unidas determinou como objetivo um acesso universal à prevenção e aos cuidados antes de 2010.
Mas uma proposta deste tipo é controversa, porque as pessoas infectadas pelo vírus da Aids são vítimas de isolamento em vários países onde os defensores dos direitos humanos temem a aplicação de diagnósticos forçados.
"Devemos nos assegurar de que as pessoas não serão discriminadas, estigmatizadas" e "que os pacientes tenham um direito real de rechaçar o diagnóstico", reconheceu De Cock. "Mas devemos fazer mais do que fizemos até agora".
"A prevenção deve estar no centro de nossa resposta à doença, o aumento dos tratamentos não conseguirá frear a epidemia", indicou, afirmando que para isso é preciso trabalhar com todas as pessoas soropositivas.
No mundo, 12% das pessoas que desejam ter um diagnóstico podem fazê-lo. Da população adulta, 0,1% submeteu-se a uma análise no sul e no sudeste asiático e 0,2% na América do Norte. A taxa de detecção é mais elevada na África Subsaariana, a região mais afetada pela Aids (2,2%).
Outra prioridade da OMS, em matéria de prevenção, é atacar o problema da transmissão do vírus de mãe para filho, algo perfeitamente controlado nos países ocidentais.
Esse problema é "sobretudo africano" já que "quase 90% das crianças que têm Aids são africanas", segundo De Cock. No sul do Saara, a Aids foi responsável por 6,5% das mortes de crianças menores de cinco anos em 2003. Uma em cada duas crianças infectadas não chega aos dois anos de idade. Menos de uma em cada 10 mulheres grávidas soropositivas recebe cuidados que podem impedir a transmissão.
"Cada bebê que nasce com HIV é o resultado de uma série de fracassos", estimou o médico. "O fracasso da prevenção entre crianças e mulheres jovens, o fracasso da educação sexual para evitar a gravidez não desejada, o fracasso das estruturas de saúde que deveriam poder impedir a transmissão de mãe para filho", assegurou.
Outro grupo da população relegado a segundo plano é o dos usuários de drogas injetáveis, motor da epidemia no Leste Europeu (sobretudo na Rússia) e na Ásia Central. "Aí trata-se sobretudo de uma questão de vontade política", destacou De Cock. Os países afetados pelo fenômeno "podem fazer muito mais".