A apenas três semanas do segundo turno presidencial, a União Africana e os vizinhos do Zimbábue devem pressionar o presidente Robert Mugabe a interromper a violência na nação do sul da África. O apelo foi feito hoje pela Organização Não-Governamental (ONG) pró-direitos humanos Human Rights Watch (HRW). Um funcionário na Zâmbia, atual líder da Comunidade sul-africana de Desenvolvimento, disse que havia poucas opções para o grupo regional liderar esforços para encontrar uma solução. O ministro de Informação da Zâmbia, George Mulongoti, previu que a crise e a necessidade de mediação continuariam após a votação, no dia 27 de junho, entre Mugabe e o líder oposicionista Morgan Tsvangirai.
Tsvangirai superou Mugabe e outros dois concorrentes no primeiro turno, em 29 de março, mas não conseguiu os votos necessários para evitar nova eleição. Sediado em Nova York, o HRW elaborou um extenso relatório no qual denunciava que pelo menos 36 pessoas foram assassinadas por razões políticas desde o primeiro turno das eleições, em 29 de março, e mais de duas mil pessoas foram vítimas de violência.
"Desde que o segundo turno da eleição foi anunciado, a violência no Zimbábue aumentou", disse Georgette Gagnon, diretora da HRW na África. "O povo do Zimbábue não pode votar livremente se teme que isto possa acabar com sua vida", acrescentou. "Documentamos inúmeros incidentes de seqüestros, espancamentos, torturas e massacres realizados pelos funcionários e partidários do partido no poder, a União Nacional Africana do Zimbábue (ZANU, na sigla em inglês)", afirmou o HRW em seu comunicado.
"O Zanu e seus aliados estabeleceram por todo o país campos de tortura e de reeducação totalmente abusivos para obrigar os membros do Movimento para a Mudança Democrática (MDC, em inglês) - partido de oposição - a votarem em Mugabe", publicou o HRW no relatório. Centenas de pessoas foram vítimas de agressões, em alguns casos mortais, com troncos, chicotes, correntes de bicicleta e outros objetos durante as reuniões nos campos de "reeducação".
FugaSegundo o relatório, mais de 3 mil pessoas fugiram da violência e precisaram ir para cidades e povoados espalhados por todo o país, em locais onde não há acesso adequado a comida e água. Além disso, um número desconhecido de pessoas deslocou-se para os países vizinhos de Moçambique, Botsuana e África do Sul. "O presidente Mugabe e o governo do Zimbábue são os responsáveis por estes sérios crimes", declarou Georgette Gagnon no comunicado publicado.
"Os membros da União Africana (UA) e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) não deveriam ignorar a situação", disse Gagnon. "Deveriam deixar claro ao Zimbábue que não aprovarão as eleições e seus resultados se o governo não tomar medidas imediatas para acabar com a violência", acrescentou. Na primeira votação, Mugabe perdeu o poder no Parlamento pela primeira vez em 28 anos. O MDC nunca aceitou o resultado do primeiro turno, publicado mais de um mês após a votação, e no qual conseguiu 47,9% dos votos válidos.